quarta-feira, 28 de outubro de 2009

corpototal 19



(pintura de keith tyson, "nature painting", 2006)


ao Constantino


de todo o eixo vegetal do mundo
nasce a glória clara, imensa viagem

hoje berlim, respiração ou pedra, onde
apenas os reflexos da chuva nas cerejas
latinas, o sopro na tua face, a tinta da água
do outro lado da face do espelho vegetal. na
glória incerta dos mamilos onde nada fere a
imperfeição a alegria corre pelo peito amplo
errante como o leite no umbigo – o tempo
passou acordes anéis de noite no mar de s.pedro


José Gil

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

11, 20H



(pintura de will murray, "she's imaginative she's 23 years old she's brilliant she stops traffic", 2007)


a Mar


as laranjas em gestos épicos de sumo
cristalizado na frescura do teu corpo,
nas varandas da linha do horizonte
do casario em que tudo se perde nas
praças da tua cidade e em lisboa no
lugarejo das laranjeiras em sumo simples,
no teu colo onde tudo se ganha no centro
das coxas junto à fonte – a fome do vidro
espelhado – projecta os teus cones no
reflexo húmido da montra os livros e as
suas folhas em casulo – pele na pele, letras
negras na pele negra em sumo de noite

as laranjas rolam no soalho do sonho
em sonho, sonhando que sonho e acordo
fábrica de sonhos para a bela arteira

José Gil

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

corpo em construção 2



(pintura de david bierk, "a eulogy to earth, blue sky", 1997)


bebo o lugar do silêncio na aveia
a inventar outra palavra
com a luta

na erva que agarra a pele quente negra
qual grito que se procura
entre dentes

construindo a casa na pureza azul
e com a infância de lado
areia ou rocha

voa lenta

José Gil

domingo, 11 de outubro de 2009

corpo em construção



(esculturas em vidro de dale chihuly, "b&w persian w/red lips", s/d)


deito as cerejas no umbigo, cor de verniz
os dedos rolam as redondas do corpo em
construção como a casa sobre a rocha

abrem-se as cerejas em palavras de vento

a frescura do calor imaculado sobre a pedra
da mesa longa, o teu corpo dobra-se no lugar
do umbigo e desce e sobe ao sabor da língua
nas cerejas em construção, elegante o corpo
junto à lágrima, avança o umbigo azul onde
quebram os dedos da casa, mão larga e lenta

no olhar do céu azul e cereja e branco como
o corpo envolto no lençol do leito imaculado

José Gil