(A meu amor profundo, Solange)
“a vida é grande / tu bem o sabes / pois o caudal da
tua alegria / transborda por todas as estruturas da Vida.”
“nem se adormece na flor do inverno.”
Jorge Vicente
O poema é um cinto litúrgico, caminho com ele entre S.
Pedro e Cascais
E ardo de sede calcando a relva e o basalto das mãos
de pedra fria.
Enrolo-te no cinto bem próximo das chamas do corpo,
como uma casa a abrir,
As portas breves para a floresta do caudal de mel da
nossa alegria comum.
A arder inscrevo-te redondo e global a paixão, nem se
adormece na flor do verão.
Dançamos o samba da Escola Viradouro, o vento está
agreste contra a leveza da
inércia no húmus espiritual. Não posso ficar
sozinho em casa, não posso adiar
mais uma saída onde se encontre terra solta, sílabas
de amor e morte, o erotismo
mais feliz como lama sagrada, igreja, ruínas, frescos,
anchovas dessalgadas e
alcaparras misturadas neste almofariz de letras e
sentidos. Tudo o que quero
avança entre o cristal das lágrimas de ontem e a
alegria breve do meu país como
creme de maçã, natas e whisky.
O poema já é o próprio almofariz de chocolate e banana
da madeira para evitar
as lágrimas nas fachadas limpas das nossas faces, dói
A nossa vila é uma fábrica sensível com suburbano
delicado, não suporta
O bacalhau seco ao sol, prefere o seu peixe fresco,
não quer as moscas de um
Deus maior como fruto da alegria de hoje, a
tranquilidade da relva na varanda.
Não posso ficar mais neste quarto, gela de calor. Há
ainda amor alma para nós,
Para a largueza do voo sensual na roda das ancas e das
árvores, o teu corpo
Já é labareda, auréola para nós singular e crispada
numa noite de ondulação
Forte. A luz das coxas é uma noite sem sombras, o teu
aroma de madressilva
Já inunda as avenidas da marginal do oceano, a vida
assim é grande, tu bem
O sabes pois o caudal da tua alegria transborda para
todas as estruturas delicadas.
José Gil