tag:blogger.com,1999:blog-51213166801978362122024-03-13T23:40:55.139-07:00Diálogos do Gileditado por Jorge Vicente, mas todos os poemas são da autoria de José Giljorge vicentehttp://www.blogger.com/profile/01787847176259279784noreply@blogger.comBlogger485125tag:blogger.com,1999:blog-5121316680197836212.post-24109207985817292372017-10-27T08:17:00.001-07:002017-10-27T08:17:09.257-07:00A fuga da palavra 48<br />
<div>
Vespertinas</div>
<div>
<br /></div>
<div>
(à minha esposa linda linda, Solange)</div>
<div>
<br /></div>
<div>
<br /></div>
<div>
chegou a véspera do grande impedimento do sol</div>
<div>
afino a minha inteligência e memória, os flancos</div>
<div>
das aves já vão no caminho do Sul</div>
<div>
<br /></div>
<div>
atravessamos o rio para entrar na cidade capital</div>
<div>
são oito e trinta, as moças já acordaram para o</div>
<div>
caminho da escola, na noite de dia preparam os</div>
<div>
sapos na porta de entrada das lojas e restaurantes</div>
<div>
por uma grande casa redonda com curvas relatam</div>
<div>
os corpos, tudo vestido de preto e rosa como a moda</div>
<div>
a cor cinzenta e salmão também inclui a cruz dos profetas,</div>
<div>
onde ganhar o rebanho na capital</div>
<div>
<br /></div>
<div>
oh! cabras do meu coração e casa, abertas e vivas para o</div>
<div>
andamento do gado de grande porte</div>
<div>
<br /></div>
<div>
vírgula a vírgula circulam-te as ancas por um destino maior</div>
<div>
em Agosto teremos as nossas férias no Algarve e Sevilha</div>
<div>
faz a oração de vésperas de São Cipriano, um poema de</div>
<div>
mandarinas</div>
<div>
<br /></div>
<div>
entra, gazela da Zâmbia, que grande almofada de Deus iluminada</div>
<div>
pelo sono profundo a luz vermelha da caça. O mar, o mar dos </div>
<div>
afogamentos hoje, vai de branco a mancha negra, vai ao sol</div>
<div>
traz o arroz e um beijo por uma dádiva de segredo.</div>
<div>
<br /></div>
<div>
José Gil</div>
<div>
22-2-2016</div>
jorge vicentehttp://www.blogger.com/profile/01787847176259279784noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5121316680197836212.post-29232426087013899022017-10-18T08:13:00.000-07:002017-10-18T08:13:02.608-07:00A fuga da palavra 47o que falta no sábado de um amor correspondido<br />
<div>
a proximidade, o olhar visionário dos pássaros,</div>
<div>
o mês das alegrias</div>
<div>
<br /></div>
<div>
desejar tudo, o vento todo, o ar, o calor, aí estão</div>
<div>
trinta e oito graus, aqui nas montanhas e serras</div>
<div>
menos de cinco graus</div>
<div>
fugiram as gazelas ainda não eram oito horas</div>
<div>
podíamos ir à cachoeira águas livres para a</div>
<div>
minha casa</div>
<div>
víveres que só há no mato grosso húmido</div>
<div>
faz calor na estação das guardas, um país de</div>
<div>
afectos, falta por um dia a raiz das árvores da vida</div>
<div>
todos os dias queremos descobrir um fundamento </div>
<div>
para as palavras em fuga da língua, dos dias longos e</div>
<div>
dos dias curtos das cerejas vermelhas de inverno nas</div>
<div>
orelhas decoradas, bebe o fruto e engole a semente,</div>
<div>
<br /></div>
<div>
vamos os dois aos cristais dos ouvidos, o segredo mais</div>
<div>
claro, a tonteira, a vertigem na maré impossível do amor</div>
<div>
e dos abafos</div>
<div>
<br /></div>
<div>
quero inverter a roda dos dias, da vida, ao invés silencioso</div>
<div>
do rodar dos ponteiros do relógio mais perfeito</div>
<div>
<br /></div>
<div>
vibramos por um maracujá vivo na terra das ruas escuras</div>
<div>
uma cevada única. E um meia torrada.</div>
<div>
Abre, Deus dos árabes, o caminho da esperança</div>
<div>
a paz dos irmãos perdidos nos escombros de cidades</div>
<div>
por um caminho vermelho, amor</div>
<div>
que perfeito coração!</div>
<div>
<br /></div>
<div>
José Gil<br />
</div>
<div>
21-2-2016</div>
jorge vicentehttp://www.blogger.com/profile/01787847176259279784noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5121316680197836212.post-23066281565845807732017-10-11T06:57:00.000-07:002017-10-11T06:57:12.838-07:00A fuga da palavra 46CASA COMUM<br />
<div>
</div>
<div>
<br /></div>
<div>
(a meu amor lindo, Solange)</div>
<div>
(a Umberto Eco)</div>
<div>
<br /></div>
<div>
o dia corre nas avenidas, doze horas calmas de sábado</div>
<div>
é o tempo no alcatrão, a novidade de todos os semestres</div>
<div>
na casa comum</div>
<div>
<br /></div>
<div>
faz frio, será a estação das geadas o olhar interior da casa</div>
<div>
verde de dois em dois dias, o luar das ancas nas ancas,</div>
<div>
<br /></div>
<div>
escrevo por um café no regresso à Praça, os dias cegos</div>
<div>
da perna presa na perna cruzada, o fémur dorido do lugar</div>
<div>
a articulação da vida ao ar livre da morte vegetal </div>
<div>
<br /></div>
<div>
oiço os santos, meu Deus, resigno-me e insisto no movimento,</div>
<div>
mais outro movimento, os de perto da caravela das navegações</div>
<div>
difíceis, a Índia, o mundo inteiro como eu gostava de conhecer</div>
<div>
de mãos dadas contigo, meu amor, serei a tua vela, tu o meu leme</div>
<div>
numa rima absurda de um mapa marítimo</div>
<div>
<br /></div>
<div>
estou no Largo Cristovão da Gama, o jardim de um olhar visionário</div>
<div>
os pássaros nas árvores, o dia limpo</div>
<div>
<br /></div>
<div>
cheguem os ananases de pele macia, os oregãos sobre a carne</div>
<div>
a assar no meu carvão, a taça de vinho, sonhos.</div>
<div>
<br /></div>
<div>
José Gil</div>
<div>
20-2-2016</div>
jorge vicentehttp://www.blogger.com/profile/01787847176259279784noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5121316680197836212.post-35232976448261380902017-09-28T08:51:00.002-07:002017-09-28T08:51:25.535-07:00A fuga da palavra 45Renda Bordada à Mão<div>
<br /></div>
<div>
nasce o dia às sete horas, assim começa o tempo</div>
<div>
do sol, na corrida há um eixo, a bacia dolorosa, as cruzes</div>
<div>
vamos avançar no corpo dado, a ilustração dos teus</div>
<div>
seios na omoplata. frutos vermelhos para endoidar a</div>
<div>
terra dos ossos rendilhados, ver a paisagem e em movimento</div>
<div>
sofrer</div>
<div>
<br /></div>
<div>
trago a dor nova do encantamento, o justo remendo da</div>
<div>
osteoporose ninguém passa na renda bordada pelo poeta</div>
<div>
à mão </div>
<div>
<br /></div>
<div>
um dia sempre novo no caminho, a zagala negra atravessa o</div>
<div>
espaço frio, gela a madrugada em que o escritor descreve</div>
<div>
os percursos</div>
<div>
<br /></div>
<div>
foge-me a palavra como as bolinhas do mercúrio no chão</div>
<div>
do laboratório, entra a juventude, as moças, os dedos têm</div>
<div>
olhinhos na ponta dos dedos à espera do grande porte</div>
<div>
chega então o Elenco Negro, a égua de crina pretinha</div>
<div>
a galope, música e poesia épica</div>
<div>
<br /></div>
<div>
Oh! África do meu bairro, minha negritude clara na praia</div>
<div>
em saudade da Adraga, muda a maré, eis o tempo indelével</div>
<div>
África é tudo, o horizonte do novo mundo</div>
<div>
<br /></div>
<div>
veio atrasada a gazela do meio da manhã por um tempo</div>
<div>
de amar, azul o prazer</div>
<div>
sentado</div>
<div>
<br /></div>
<div>
José Gil</div>
<div>
19-2-2016</div>
jorge vicentehttp://www.blogger.com/profile/01787847176259279784noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5121316680197836212.post-72659667432469719782017-09-21T09:06:00.005-07:002017-09-21T09:07:46.220-07:00A fuga da palavra 44(a meu amor lindo, Solange)<br />
<div>
<br /></div>
<div>
<br /></div>
<div>
a égua brava da manhã é para montar rapidamente</div>
<div>
a trote traz o vento no silêncio, sozinho avança com</div>
<div>
a crista magenta vermelha</div>
<div>
<br /></div>
<div>
traz o trabalho de sedução nos olhos, sorri como</div>
<div>
ninguém e avança novamente com olhos amêndoa,</div>
<div>
no lugar dos labirintos cavalo de botas</div>
<div>
<br /></div>
<div>
chega ao patamar da casa a floresta antiga, flor nova</div>
<div>
e rosa negra quero o amor pela casa, a erva dos estábulos</div>
<div>
trago o feijão fresco a pedra e a flor colhida agora no</div>
<div>
paraíso da fruta e flores. um dia novo - abre o crânio</div>
<div>
perfeito</div>
<div>
<br /></div>
<div>
"gosto de imaginar o tempo como um aliado", esse breve</div>
<div>
instante em que te amo à distância como indelével,</div>
<div>
em que tenho tempo para escrever</div>
<div>
sempre a correr</div>
<div>
quase a parar o</div>
<div>
tempo</div>
<div>
<br /></div>
<div>
José Gil</div>
<div>
</div>
<div>
18-2-2016</div>
jorge vicentehttp://www.blogger.com/profile/01787847176259279784noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5121316680197836212.post-69514286335818414232017-09-15T04:03:00.001-07:002017-09-21T09:04:33.777-07:00A fuga da palavra 43<br />
<div>
(à minha pretinha querida, Solange)</div>
<div>
<br /></div>
<div>
chega, ave de fogo do outro lado o oriente</div>
<div>
ostenta a tua penugem para quem passa no</div>
<div>
largo </div>
<div>
<br /></div>
<div>
ousa o corpo exemplar e original por um sonho</div>
<div>
em Itabira</div>
<div>
<br /></div>
<div>
pergunta por mim aos pássaros que já vou a caminho</div>
<div>
no oceano que me une a CDA- Carlos Drumond de Andrade</div>
<div>
<br /></div>
<div>
abre devagar as asas das coxas ao toque dos dedos</div>
<div>
ergue o beijo</div>
<div>
<br /></div>
<div>
há ainda uma asa que não voa</div>
<div>
do meu, do teu coração</div>
<div>
<br /></div>
<div>
chega, ave pretinha a uma casa de amar</div>
<div>
de que é feita a substância da tua pele.</div>
<div>
<br /></div>
<div>
José Gil</div>
<div>
17-2-2016</div>
jorge vicentehttp://www.blogger.com/profile/01787847176259279784noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5121316680197836212.post-32420911071426008852017-09-15T02:57:00.000-07:002017-09-15T02:57:05.748-07:00A fuga da palavra 42<div>
<br /></div>
<div>
ao passar o navio guardo-te como uma planta num copo de água</div>
<div>
como flor de lilás ou fruto de maracujá, pretinha por fora vermelha</div>
<div>
por dentro </div>
<div>
<br /></div>
<div>
aveludado toco o teu ventre com as folhas e os dedos para dormir</div>
<div>
devagar no teu colo tudo guardo com saudade e sem distância</div>
<div>
<br /></div>
<div>
quem diria Santiago do Chile, a terra prometida, os vinhedos,</div>
<div>
o mercado, as praias de Vale Paraíso e Punta del Cana</div>
<div>
<br /></div>
<div>
ao passar o navio aproximam-se os pelicanos das rochas onde</div>
<div>
esperas o sol e as grandes ondas do mar</div>
<div>
<br /></div>
<div>
tive medo de perder-te para a água e aqui estás</div>
<div>
ao passar o navio, minha flor.</div>
<div>
<br /></div>
<div>
José Gil</div>
<div>
17-02-2016</div>
jorge vicentehttp://www.blogger.com/profile/01787847176259279784noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5121316680197836212.post-81633784644209129712017-09-13T07:08:00.004-07:002017-09-13T07:08:34.072-07:00A fuga da palavra 41<div>
</div>
<div>
A Flor de Lilás</div>
<div>
<br /></div>
<div>
(à minha moça linda, Solange)</div>
<div>
<br /></div>
<div>
a flor de lilás da juventude entra no arco bandeira,</div>
<div>
quer o mastro fundo, está sol e estrelas, aproxima-se</div>
<div>
a primavera, para a salvação do corpo um lugar ilustrado</div>
<div>
com folhas simples</div>
<div>
<br /></div>
<div>
trago a espiga do vento, os seios escondidos nas pernas</div>
<div>
fechadas para a minha moça, melhor o beijo que o bolo</div>
<div>
só fruta para o movimento estudantil</div>
<div>
<br /></div>
<div>
quem espera ainda a origem do corpo selvagem, uma boa</div>
<div>
caixa de ar para respirar fundo, um olhar difuso e cruzado</div>
<div>
a casa amarela, a moça a janela</div>
<div>
<br /></div>
<div>
José Gil</div>
jorge vicentehttp://www.blogger.com/profile/01787847176259279784noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5121316680197836212.post-59547316846328720202017-07-28T13:22:00.002-07:002017-07-28T13:22:38.229-07:00A fuga da palavra 40<span style="background-color: white; color: #222222; font-family: Georgia; font-size: 13px;">Traz a Ave</span><br />
<div style="background-color: white; color: #222222; font-family: Georgia; font-size: 13px; line-height: 1.22em;">
<br style="line-height: 1.22em;" /></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; font-family: Georgia; font-size: 13px; line-height: 1.22em;">
(à minha esposa linda sempre, Solange)</div>
<div style="background-color: white; color: #222222; font-family: Georgia; font-size: 13px; line-height: 1.22em;">
<br style="line-height: 1.22em;" /></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; font-family: Georgia; font-size: 13px; line-height: 1.22em;">
traz a ave amor preparada para o mundo</div>
<div style="background-color: white; color: #222222; font-family: Georgia; font-size: 13px; line-height: 1.22em;">
um universo único e exemplar</div>
<div style="background-color: white; color: #222222; font-family: Georgia; font-size: 13px; line-height: 1.22em;">
de terra e cal branca para a casa</div>
<div style="background-color: white; color: #222222; font-family: Georgia; font-size: 13px; line-height: 1.22em;">
à beira do oceano comum</div>
<div style="background-color: white; color: #222222; font-family: Georgia; font-size: 13px; line-height: 1.22em;">
<br style="line-height: 1.22em;" /></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; font-family: Georgia; font-size: 13px; line-height: 1.22em;">
bebe um copo pelas comemorações</div>
<div style="background-color: white; color: #222222; font-family: Georgia; font-size: 13px; line-height: 1.22em;">
quando faltam dois anos de vida</div>
<div style="background-color: white; color: #222222; font-family: Georgia; font-size: 13px; line-height: 1.22em;">
<br style="line-height: 1.22em;" /></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; font-family: Georgia; font-size: 13px; line-height: 1.22em;">
traz as cerejas para o abraço doce</div>
<div style="background-color: white; color: #222222; font-family: Georgia; font-size: 13px; line-height: 1.22em;">
que o corpo esconde a água</div>
<div style="background-color: white; color: #222222; font-family: Georgia; font-size: 13px; line-height: 1.22em;">
no paraíso de terra vegetal</div>
<div style="background-color: white; color: #222222; font-family: Georgia; font-size: 13px; line-height: 1.22em;">
nove horas de espera, sete semanas de paixão</div>
<div style="background-color: white; color: #222222; font-family: Georgia; font-size: 13px; line-height: 1.22em;">
no ouvido secreto de ser eu ou não sou no</div>
<div style="background-color: white; color: #222222; font-family: Georgia; font-size: 13px; line-height: 1.22em;">
subsolo do poema a percorrer o seu labirinto</div>
<div style="background-color: white; color: #222222; font-family: Georgia; font-size: 13px; line-height: 1.22em;">
por um poente nas pernas, a lua cheia</div>
<div style="background-color: white; color: #222222; font-family: Georgia; font-size: 13px; line-height: 1.22em;">
<br style="line-height: 1.22em;" /></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; font-family: Georgia; font-size: 13px; line-height: 1.22em;">
o horizonte conquistado ao pequeno mundo</div>
<div style="background-color: white; color: #222222; font-family: Georgia; font-size: 13px; line-height: 1.22em;">
das coisas simples da vida como namorada</div>
<div style="background-color: white; color: #222222; font-family: Georgia; font-size: 13px; line-height: 1.22em;">
água, música, irmã, amigo, sol, água</div>
<div style="background-color: white; color: #222222; font-family: Georgia; font-size: 13px; line-height: 1.22em;">
o luar perfeito, o céu incompleto</div>
<div style="background-color: white; color: #222222; font-family: Georgia; font-size: 13px; line-height: 1.22em;">
as manhãs do mundo pequeno.</div>
<div style="background-color: white; color: #222222; font-family: Georgia; font-size: 13px; line-height: 1.22em;">
<br style="line-height: 1.22em;" /></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; font-family: Georgia; font-size: 13px; line-height: 1.22em;">
José Gil</div>
<div style="background-color: white; color: #222222; font-family: Georgia; font-size: 13px; line-height: 1.22em;">
<br style="line-height: 1.22em;" /></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; font-family: Georgia; font-size: 13px; line-height: 1.22em;">
15-2-2016</div>
jorge vicentehttp://www.blogger.com/profile/01787847176259279784noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5121316680197836212.post-1404166033294278762017-07-11T03:25:00.004-07:002017-07-11T03:25:47.027-07:00A fuga da palavra 39O CORPO<br />
<div>
<br /></div>
<div>
(à minha linda pretinha, amor Solange)</div>
<div>
<br /></div>
<div>
o corpo fala um poema devorante</div>
<div>
o poeta é um leão, uma ave de rapina</div>
<div>
águia vermelha pelos céus diminui</div>
<div>
o tamanho do mundo,</div>
<div>
por uma pequena peça de roupa</div>
<div>
torna-se ladrão, vive em agonia</div>
<div>
<br /></div>
<div>
caminha veloz como uma gazela</div>
<div>
é sábado, o poeta está feliz</div>
<div>
sabe a armadilha da sedução</div>
<div>
ama, devora os seios, o pescoço</div>
<div>
por um pilar negro no meio do eixo</div>
<div>
norte-sul do corpo, redondas formas</div>
<div>
de sentir um Deus aberto e plural</div>
<div>
no barro da terra quando chove</div>
<div>
corpo na lama, vestígio da origem</div>
<div>
encontra logo a palavra certa</div>
<div>
<br /></div>
<div>
Lisboa fica amuada, a palavra não</div>
<div>
lhe apareceu</div>
<div>
<br /></div>
<div>
não guarde o passado que o mundo é</div>
<div>
tão pequeno</div>
<div>
</div>
<div>
José Gil </div>
jorge vicentehttp://www.blogger.com/profile/01787847176259279784noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5121316680197836212.post-17878264591690844992017-06-27T04:36:00.001-07:002017-06-27T04:36:11.758-07:00A fuga da palavra 38Obscura Luz - Lição de Tango<div>
<br /></div>
<div style="text-align: right;">
a Astor Piazzola</div>
<div style="text-align: right;">
à minha esposa linda que tb conhece Carlos Drummond</div>
<div>
<br /></div>
<div style="font-family: Calibri,Arial,Helvetica,sans-serif; margin-bottom: 1.35em;">
"O MUNDO É GRANDE</div>
<div style="font-family: Calibri,Arial,Helvetica,sans-serif; margin-bottom: 1.35em;">
<br /></div>
<div style="font-family: Calibri,Arial,Helvetica,sans-serif; margin-bottom: 1.35em;">
O mundo é grande e cabe</div>
<div style="font-family: Calibri,Arial,Helvetica,sans-serif; margin-bottom: 1.35em;">
nesta janela sobre o mar.</div>
<div style="font-family: Calibri,Arial,Helvetica,sans-serif; margin-bottom: 1.35em;">
O mar é grande e cabe</div>
<div style="font-family: Calibri,Arial,Helvetica,sans-serif; margin-bottom: 1.35em;">
na cama e no colchão de amar.</div>
<div style="font-family: Calibri,Arial,Helvetica,sans-serif; margin-bottom: 1.35em;">
O amor é grande e cabe</div>
<div style="font-family: Calibri,Arial,Helvetica,sans-serif; margin-bottom: 1.35em;">
no breve espaço de beijar."</div>
<div style="font-family: Calibri,Arial,Helvetica,sans-serif; margin-bottom: 1.35em;">
Carlos Drummond de Andrade</div>
<div style="font-family: Calibri,Arial,Helvetica,sans-serif; margin-bottom: 1.35em;">
<br /></div>
<div style="font-family: Calibri,Arial,Helvetica,sans-serif; margin-bottom: 1.35em;">
obscura luz a que leio para ouvir a variação</div>
<div style="font-family: Calibri,Arial,Helvetica,sans-serif; margin-bottom: 1.35em;">
do colchão do amor, é a regra da manhã</div>
<div style="font-family: Calibri,Arial,Helvetica,sans-serif; margin-bottom: 1.35em;">
devagar dança o tango deitada, oiço os</div>
<div style="font-family: Calibri,Arial,Helvetica,sans-serif; margin-bottom: 1.35em;">
campos de batalha e sozinha bailas</div>
<div style="font-family: Calibri,Arial,Helvetica,sans-serif; margin-bottom: 1.35em;">
maçãs cruas na pele, liso leite de burra</div>
<div style="font-family: Calibri,Arial,Helvetica,sans-serif; margin-bottom: 1.35em;">
no rosto para dar beleza à pretinha branca</div>
<div style="font-family: Calibri,Arial,Helvetica,sans-serif; margin-bottom: 1.35em;">
de Minas, minério puro sem pó seco para mim</div>
<div style="font-family: Calibri,Arial,Helvetica,sans-serif; margin-bottom: 1.35em;">
meu luar do grande mundo, dança devagar as</div>
<div style="font-family: Calibri,Arial,Helvetica,sans-serif; margin-bottom: 1.35em;">
fantasias, o mar é grande, procuro o vocábulo ou</div>
<div style="font-family: Calibri,Arial,Helvetica,sans-serif; margin-bottom: 1.35em;">
a palavra justa de beijar</div>
<div style="font-family: Calibri,Arial,Helvetica,sans-serif; margin-bottom: 1.35em;">
<br /></div>
<div style="font-family: Calibri,Arial,Helvetica,sans-serif; margin-bottom: 1.35em;">
fugiu-me manhã cedo pela hora do café, quebra de</div>
<div style="font-family: Calibri,Arial,Helvetica,sans-serif; margin-bottom: 1.35em;">
pagina e lá vai ela, a vagabunda, dos dias sem sol limpo</div>
<div style="font-family: Calibri,Arial,Helvetica,sans-serif; margin-bottom: 1.35em;">
escondida nas nuvens negras</div>
<div style="font-family: Calibri,Arial,Helvetica,sans-serif; margin-bottom: 1.35em;">
<br /></div>
<div style="font-family: Calibri,Arial,Helvetica,sans-serif; margin-bottom: 1.35em;">
vem por momentos um sol claro, o céu por instantes aberto</div>
<div style="font-family: Calibri,Arial,Helvetica,sans-serif; margin-bottom: 1.35em;">
o suor da noite fria, lê amor, oiço as tuas ancas no relógio à</div>
<div style="font-family: Calibri,Arial,Helvetica,sans-serif; margin-bottom: 1.35em;">
solta como os cabelos à chuva, um lugar para cantar os teus olhos</div>
<div style="font-family: Calibri,Arial,Helvetica,sans-serif; margin-bottom: 1.35em;">
<br /></div>
<div style="font-family: Calibri,Arial,Helvetica,sans-serif; margin-bottom: 1.35em;">
lição de Tango para dois corpos nus e sapatos brilhantes de verniz</div>
<div style="font-family: Calibri,Arial,Helvetica,sans-serif; margin-bottom: 1.35em;">
avanças cozinheira de fantasias de carvão, complexo eixo</div>
<div style="font-family: Calibri,Arial,Helvetica,sans-serif; margin-bottom: 1.35em;">
norte-sul, uma Deusa Guerreira contra um piolho da água estagnada</div>
<div style="font-family: Calibri,Arial,Helvetica,sans-serif; margin-bottom: 1.35em;">
do vento, azeite puro, cabeça pequena</div>
<div style="font-family: Calibri,Arial,Helvetica,sans-serif; margin-bottom: 1.35em;">
<br /></div>
<div style="font-family: Calibri,Arial,Helvetica,sans-serif; margin-bottom: 1.35em;">
quantas ondas tem o oceano do colchão de amar? vamos, vamos</div>
<div style="font-family: Calibri,Arial,Helvetica,sans-serif; margin-bottom: 1.35em;">
abrilhantar as ondas do teu corpo</div>
<div style="font-family: Calibri,Arial,Helvetica,sans-serif; margin-bottom: 1.35em;">
<br /></div>
<div style="font-family: Calibri,Arial,Helvetica,sans-serif; margin-bottom: 1.35em;">
vou aquecendo o coração até Agosto, não se pode deixar esfriar a terra</div>
<div style="font-family: Calibri,Arial,Helvetica,sans-serif; margin-bottom: 1.35em;">
do amor vivo - corpo sobre o nu lençol de linho, a casa nova, o xadrez</div>
<div style="font-family: Calibri,Arial,Helvetica,sans-serif; margin-bottom: 1.35em;">
jovem da saia em xadrez verde e branco, plissada, só com uma prega</div>
<div style="font-family: Calibri,Arial,Helvetica,sans-serif; margin-bottom: 1.35em;">
baton vermelho no lugar sensato, baloiça a porta ao som de Piazzola</div>
<div style="font-family: Calibri,Arial,Helvetica,sans-serif; margin-bottom: 1.35em;">
é o Chile em saudade</div>
<div style="font-family: Calibri,Arial,Helvetica,sans-serif; margin-bottom: 1.35em;">
<br /></div>
<div style="font-family: Calibri,Arial,Helvetica,sans-serif; margin-bottom: 1.35em;">
mão que segura o império, bastão real, fica com a marca dos lábios</div>
<div style="font-family: Calibri,Arial,Helvetica,sans-serif; margin-bottom: 1.35em;">
violento tocar da loiça antiga.</div>
<div style="font-family: Calibri,Arial,Helvetica,sans-serif; margin-bottom: 1.35em;">
<br /></div>
<div style="font-family: Calibri,Arial,Helvetica,sans-serif; margin-bottom: 1.35em;">
José Gil</div>
<div style="font-family: Calibri,Arial,Helvetica,sans-serif; margin-bottom: 1.35em;">
14-2-2016</div>
jorge vicentehttp://www.blogger.com/profile/01787847176259279784noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5121316680197836212.post-22550422607027943452017-06-08T06:50:00.003-07:002017-06-08T06:50:42.301-07:00A fuga da palavra 37<div>
</div>
<div>
Fregueses</div>
<div>
<br /></div>
<div>
(à minha pretinha linda, Solange)</div>
<div>
<br /></div>
<div>
estou a escrever na freguesia de Águas Livres</div>
<div>
a minha memória próxima, a minha casa aberta</div>
<div>
intercontinental - o comboio na estação da Damaia,</div>
<div>
<br /></div>
<div>
marcho no trilho dos fregueses que recuperam</div>
<div>
a esperança por descobrir no jardim, no meio</div>
<div>
da floresta de prédios e barracas</div>
<div>
<br /></div>
<div>
avanço cedo às sete horas pelo escuro para preparar</div>
<div>
os músculos vegetais do teu corpo, é o rosto mais</div>
<div>
claro que amo até aos seios fartos que seguro</div>
<div>
<br /></div>
<div>
chuva de sentimentos aí no verão de Itabira</div>
<div>
<br /></div>
<div>
como o queque e bebo a bica por um dia acordado</div>
<div>
e assertivo, a fome de pele, vibra devagar o teu lugar</div>
<div>
por mais um dia de sol em Minas</div>
<div>
aqui chove, é Fevereiro</div>
<div>
<br /></div>
<div>
chegam as flores primárias é o sinal do andar das horas</div>
<div>
sem relógio, perco o meu olhar no teu, sei que não és</div>
<div>
tu que hoje entras na porta com o teu amor matinal</div>
<div>
<br /></div>
<div>
chegou o malmequer, cintura fina, olhos castanhos</div>
<div>
<br /></div>
<div>
procuro no teu ventre o luar, amor, na lua fotogénica</div>
<div>
entre as almas. gosto tanto do teu sorriso, vem como</div>
<div>
o amor perfeito junto da rosa negra, o cravo e a geringonça</div>
<div>
<br /></div>
<div>
vem na manhã de Agosto no Aeroporto General Humberto </div>
<div>
Delgado para chegares onde se mata a saudade e se constrói</div>
<div>
o dia feliz, memorial centenário, espectacular como a</div>
<div>
tangerina das vindimas.</div>
<div>
</div>
<div>
José Gil </div>
jorge vicentehttp://www.blogger.com/profile/01787847176259279784noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5121316680197836212.post-10208192170542272342017-05-24T04:22:00.002-07:002017-05-24T04:22:18.441-07:00A fuga da palavra 36<div>
(à minha esposa jovem e linda, Solange)</div>
<div>
<br /></div>
<div>
chegam as flores na chuva miudinha às oito e trinta</div>
<div>
já tenho uma hora de marcha, batem-me no rosto</div>
<div>
os pingos leves como carícias e avanço pela floresta</div>
<div>
até descobrir o leão preto. pode-se ter perdido de medo</div>
<div>
como a palavra e outros animais mais pequenos</div>
<div>
<br /></div>
<div>
toda a rua é rápida de manhã cedo, como o silêncio que</div>
<div>
não tem pegado a palavra na língua. será esta? não a</div>
<div>
encontro no jardim</div>
<div>
<br /></div>
<div>
chega outra flor de cabelo maior que o leão, cor magenta</div>
<div>
vermelha como o sol nas noites de verão junto aos piratas</div>
<div>
<br /></div>
<div>
toco os teus seios como rosas nos meus dedos, pena de</div>
<div>
pavão leve para acariciar os mamilos, rodo, os meus dedos</div>
<div>
de doce de moça</div>
<div>
<br /></div>
<div>
os cones crescem rosados como a aflição da chuva contínua</div>
<div>
bebe amor agora o vinho Piriquita</div>
<div>
<br /></div>
<div>
desenho os teus lábios, sublinho a violeta no teu rosto claro</div>
<div>
é verão aí, a fuga da palavra é noticia</div>
<div>
regressa amor como o tempo e as novas flores, pretinha, com</div>
<div>
as virtudes do inverno europeu o templo claro e o conventinho</div>
<div>
escuro e sagrado para a minha língua, ergue a maravilha</div>
<div>
quando passas a porta e entra.</div>
<div>
<br /></div>
<div>
<br /></div>
<div>
José Gil</div>
jorge vicentehttp://www.blogger.com/profile/01787847176259279784noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5121316680197836212.post-65558072589735058262017-04-27T03:32:00.005-07:002017-04-27T03:32:43.441-07:00A fuga da palavra 35<div>
(a meu amor, pretinha Solange)</div>
<div>
<br /></div>
<div>
a água vem na estrada, a estrela fica ao fundo</div>
<div>
chove saudade na rua, vai o inverno para a</div>
<div>
primavera no eixo verde contigo</div>
<div>
<br /></div>
<div>
avança na calçada, pedra preta pedra branca</div>
<div>
gostas de dançar, choro a cada passo uma </div>
<div>
cereja do Fundão</div>
<div>
<br /></div>
<div>
abre a porta do quarto, estou aí com esperança</div>
<div>
onde tu tocas há um lugar vegetal e verde</div>
<div>
já no território da pedra em fuga ficas derrotada</div>
<div>
o teu corpo coberto de cerejas vermelhas cor do </div>
<div>
cabelo, em cada instante magenta</div>
<div>
<br /></div>
<div>
deste lado introvertido, envelheci à espera </div>
<div>
<br /></div>
<div>
a égua vem na estrada da árvore</div>
<div>
da felicidade</div>
<div>
antes de passar pela mágica Itabira de</div>
<div>
Carlos Drumond de Andrade, meu querido pai</div>
<div>
inspirador de Minas</div>
<div>
como o barco de Ítaca, a sombra de palácios</div>
<div>
na Cova da Moura, a casa, castelo bem ao alto</div>
<div>
<br /></div>
<div>
e descubro a relva nova de cada milagre</div>
<div>
via sacra de perímetro em perímetro</div>
<div>
vivemos em folhas simples, tatuagens de pele</div>
<div>
recato do colo do corpo em seu abafo</div>
<div>
toco-te feliz a pele no ombro, doçura</div>
<div>
veloz é o tempo que te cruzo</div>
<div>
<br /></div>
<div>
José Gil</div>
<div>
(9 de Fevereiro 2016)</div>
jorge vicentehttp://www.blogger.com/profile/01787847176259279784noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5121316680197836212.post-82186315741053515122017-04-13T07:18:00.000-07:002017-04-13T07:18:08.213-07:00A fuga da palavra 34<div>
</div>
<div>
O Arsenal</div>
<div>
<br /></div>
<div>
(à Solange, meu amor) </div>
<div>
<br /></div>
<div>
<br /></div>
<div>
o arsenal de flores traz os barcos até à maré baixa</div>
<div>
do teu ventre, traz folhas de amor para o Outono</div>
<div>
onde procuro no silêncio a sua vontade</div>
<div>
e tenho tudo e as sementes da tua sede</div>
<div>
para voar devagarinho sobre a casa e o lar</div>
<div>
da tua terra mineira onde o cristal é Ouro</div>
<div>
<br /></div>
<div>
bebe, amor, as palavras </div>
<div>
<br /></div>
<div>
<br /></div>
<div>
José Gil</div>
jorge vicentehttp://www.blogger.com/profile/01787847176259279784noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5121316680197836212.post-47495505240146403152017-03-31T08:06:00.004-07:002017-03-31T08:06:49.642-07:00A fuga da palavra 33<br />
<div>
O Mesmo e o outro</div>
<div>
<br /></div>
<div>
(à minha esposa com muita saudade, Solange)</div>
<div>
<br /></div>
<div>
falando na alteridade da água sobre o mármore do inverno,</div>
<div>
o signo da identidade, a essência da poesia e da verdade,</div>
<div>
mestre da natureza o poeta pinta a casa que tem desde a</div>
<div>
infância toda para si</div>
<div>
<br /></div>
<div>
e a palavra que fugiu falsa sobre a espada do amor eterno</div>
<div>
nas folhas de saudade que caem da árvore castanhas</div>
<div>
com o vento e a chuva, tocam o teu umbigo</div>
<div>
<br /></div>
<div>
um outro nome que o seu,</div>
<div>
o outro que seja sempre língua</div>
<div>
<br /></div>
<div>
a poesia é sempre linguagem.</div>
<div>
<br /></div>
<div>
José Gil</div>
jorge vicentehttp://www.blogger.com/profile/01787847176259279784noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5121316680197836212.post-91610494694363217652017-03-22T05:01:00.005-07:002017-03-22T05:01:43.378-07:00a fuga da palavra 32(à Solange, meu amor divino)<br />
<div>
<br /></div>
<div>
<br /></div>
<div>
abre o olhar como as flores de tília</div>
<div>
as plantas que salvam o mundo,</div>
<div>
procura as folhas e a água quente</div>
<div>
por um momento de paz</div>
<div>
por um instante de esperança</div>
<div>
<br /></div>
<div>
vai passar a guerra como dizem os outros,</div>
<div>
um tempo mágico da tília verde</div>
<div>
um tempo novo para fazer</div>
<div>
a terra dos líquidos comprimidos.</div>
<div>
quem espera o osso, a osteopatia,</div>
<div>
o ventre liso da batalha, a terra</div>
<div>
queimada por esses países fora</div>
<div>
<br /></div>
<div>
um oceano vai nascer, não vai faltar a</div>
<div>
água aos seios vermelhos do amor,</div>
<div>
oceano fértil onde vive a vagem verde</div>
<div>
como toda a natureza na primavera,</div>
<div>
os grandes animais, o grande porte</div>
<div>
<br /></div>
<div>
caiados de castanho e branco claro.</div>
<div>
<br /></div>
<div>
José Gil</div>
jorge vicentehttp://www.blogger.com/profile/01787847176259279784noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5121316680197836212.post-57655554829140230722017-03-22T04:51:00.005-07:002017-03-22T04:51:45.080-07:00a fuga da palavra 31: pomba<div>
Pomba</div>
<div>
<br /></div>
<div>
<br /></div>
<div>
voa pomba entre as laranjeiras de Sevilha</div>
<div>
num lugar de fertilização do enamoramento,</div>
<div>
os lentos movimentos da origem da natureza</div>
<div>
urbana pela selecção das espécies</div>
<div>
<br /></div>
<div>
avançamos, é inverno e o frio não dobra as</div>
<div>
páginas do livro</div>
<div>
<br /></div>
<div>
avança, pomba no delírio, carroça poente a</div>
<div>
este poema com as suas éguas do sobrado,</div>
<div>
as casas estão mascaradas de alegria, a pomba</div>
<div>
ri no rio do seu carnaval da carne</div>
<div>
a delicia dos favos de mel</div>
<div>
<br /></div>
<div>
são os rios as fontes de benfica, os dias descansados,</div>
<div>
o perfume encanta o cabelo magenta vermelho,</div>
<div>
as pernas esguias e cruzadas no colo</div>
<div>
no coração invisivel dos dedos da</div>
<div>
pomba de mel.</div>
<div>
<br /></div>
<div>
José Gil</div>
jorge vicentehttp://www.blogger.com/profile/01787847176259279784noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5121316680197836212.post-1284592989924935492017-03-21T09:12:00.004-07:002017-03-21T09:12:40.244-07:00A fuga da palavra 30: o pequeno jogo(à minha mulher pretinha linda, Solange)<div>
<br /></div>
O pequeno jogo<div>
<br /></div>
<div>
<br /><div>
<br /></div>
<div>
<br /></div>
<div>
o pequeno jogo traz-te no pequeno barco que chega a Leixões, quantos milhares,</div>
<div>
meu amor para descer o Douro entre o vinho, Trás-os-montes e o Porto, as escritas</div>
</div>
<div>
do norte, quero-te branca neste mundo de mulatas a dançar nos palcos de rua,</div>
<div>
Carnaval único de carne pura e comida justa</div>
<div>
<br /></div>
<div>
em cada província, os lábios tremem no armário aqui fechado em casa, o céu azul</div>
<div>
que pinto da janela: o meu anjo se tu quiseres. telefono, é sábado amor e voo sem</div>
<div>
sair de casa, a pouco e pouco adormeço. vamos.</div>
<div>
<br /></div>
<div>
<br /></div>
<div>
José Gil</div>
jorge vicentehttp://www.blogger.com/profile/01787847176259279784noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5121316680197836212.post-78510571788279084522017-03-17T10:28:00.001-07:002017-03-17T10:28:51.219-07:00a fuga da palavra 29: abre devagar a asa(a meu amor lindo, Solange)<div>
<br /></div>
<div>
abre devagar a asa, no contorno do desenho</div>
<div>
a rosa fica a sombra a cinza de todo o milagre</div>
<div>
do mundo</div>
<div>
<br /></div>
<div>
nascemos lentamente de uma só vez, por um</div>
<div>
só soluço e choro a respiração profunda da vida</div>
<div>
<br /></div>
<div>
vamos por este prazer e o outro escrevendo</div>
<div>
o que ultrapassa a palavra em fuga</div>
<div>
<br /></div>
<div>
José Gil</div>
jorge vicentehttp://www.blogger.com/profile/01787847176259279784noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5121316680197836212.post-43630713740285160372017-02-24T04:04:00.002-08:002017-02-24T04:04:14.189-08:00a fuga da palavra 28Perfume<br /><div>
<div>
<br /></div>
<div>
(para a minha pretinha mulher, Solange)</div>
<div>
<br /></div>
<div>
<br /></div>
<div>
as rosas do alcatrão num quente e leve agosto,</div>
<div>
inspiração do futuro rumo a um verão refrescante,</div>
<div>
a atmosfera da noite para abrir asas e voar</div>
<div>
<br /></div>
<div>
tão jovem é a tua pele, corpo em movimento, estátua</div>
<div>
um dedo de conversa, o amor pleno na estrada da agonia</div>
<div>
um dia claro e frio, a polpa da vida selvagem</div>
<div>
<br /></div>
<div>
vamos, vais pelo momento do encontro, o dia feliz</div>
<div>
a atravessar a terra de barro, as lacunas da rua e do</div>
<div>
travesseiro, o corpo rodado por uma hora de perfume </div>
</div>
<div>
as ancas relativas à flor do paraíso</div>
<div>
uma casa aberta</div>
<div>
um tempo novo</div>
<div>
<br /></div>
<div>
atravesso o teu rio claro, o teu umbigo de sangue</div>
<div>
a lua nova na montanha, a estrela branca no ar</div>
<div>
por um céu magnifico</div>
<div>
<br /></div>
<div>
está frio, um arco de vagabundos, um olhar </div>
<div>
sobre a terra desviada do ventre</div>
<div>
onde corre a palavra pela língua</div>
<div>
vermelha</div>
<div>
<br /></div>
<div>
José Gil</div>
jorge vicentehttp://www.blogger.com/profile/01787847176259279784noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5121316680197836212.post-48733595289992605782017-02-20T02:44:00.001-08:002017-02-20T02:44:22.256-08:00a fuga da palavra 27(à minha esposa querida, Solange)<br />
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dos campos de chá até ti, verde o teu ventre rente às folhas</div>
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renova-se a paz dos dedos</div>
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Emilia Kamvisi, a grega salvou o bebé Sírio da morte</div>
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na ilha de Lesbos, uma das mais bonitas e trágicas da</div>
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Europa.</div>
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fugiu-lhe uma palavra a Emilia, 85 anos de alimentos e</div>
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abafos para os outros por uma causa, está frio, gelo, fome</div>
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transversal ao amor como sonhar com este pesadelo,</div>
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divina lucidez da acção livre</div>
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numa Europa inquinada de revoluções contrárias,</div>
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um tempo novo para organizar as ruínas e as rochas</div>
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do mar em que te amo. Não é a Sicília, amor, mas podia ser</div>
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<br /></div>
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José Gil</div>
jorge vicentehttp://www.blogger.com/profile/01787847176259279784noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5121316680197836212.post-12519093871399274002017-02-20T02:29:00.002-08:002017-02-20T02:29:18.875-08:00a fuga da palavra 26Rio das Maçãs<br />
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(à minha esposa linda,linda, Solange)</div>
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O "rio das maçãs" abre-se junto ao Palácio da Vila,</div>
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a ruína humana do Hotel Neto como um nó histórico, </div>
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Sintra para correspondência, Rua Conselheiro Segurado,</div>
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os prados e os vérgeis que outrora circundavam o hotel</div>
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onde Ferreira de Castro escrevia</div>
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Fui à Praia Grande em Janeiro do ano passado,</div>
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fugi por medo do mar, terá sido o mesmo motivo</div>
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da palavra justa</div>
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José Gil</div>
jorge vicentehttp://www.blogger.com/profile/01787847176259279784noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5121316680197836212.post-26331922545832429762017-02-16T02:18:00.002-08:002017-02-16T02:18:31.772-08:00a fuga da palavra 25<div>
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(à minha mulher linda e jovem sempre, Solange)</div>
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quem sabe o fogo das rosas no teu peito de madrugada</div>
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só os Deuses do trigo e da aveia, os cozinheiros da carne</div>
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bem passada dentro do folar de festas na tua aldeia</div>
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vibra por um suco de maracujá e um pouco de bola quente</div>
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do carvão da noite no forno das tuas ancas brancas</div>
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despenteia todos esses cabelos perdidos no pescoço e nas</div>
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pernas por uma ascensão ao rosto dos anjos de Belém</div>
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esta é a casa, a fazenda com o teu conventinho, dá os cones,</div>
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a boca da princesa e espera o leite virginal da terra</div>
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perde os lábios no olhar celestial do príncipe.</div>
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José Gil</div>
jorge vicentehttp://www.blogger.com/profile/01787847176259279784noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5121316680197836212.post-1358722603993006292017-02-10T03:25:00.001-08:002017-02-10T03:25:19.887-08:00a fuga da palavra 24<div>
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(à minha esposa jovem e linda, Solange)</div>
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a terra queimada do teu sorriso, dos lábios dela foge</div>
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a palavra, uma organização vegetal da sedução</div>
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a explosão das rosas na Av. da Liberdade</div>
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a caminhada da Graça ao centro da cidade</div>
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um olhar histórico em que se perdem os laços,</div>
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um dia de sentimentos, negrinha minha no coração</div>
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da cozinha, o seu olhar amarelo na fumaça, olhos castanhos</div>
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fígados de bacalhau para te cantar o vinho</div>
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a cama revoltada de lençóis ao vento, os lugares secretos</div>
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da casa como a muralha de S. Jorge</div>
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o outro olhar da rua</div>
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um marmelo na boca</div>
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repartido em quatro,</div>
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um dia completo</div>
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bebe a água dos lugares de Deus, as fontes da ternura</div>
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nos dias felizes do encontro - falta tempo, amor</div>
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falta tempo para dizer não e dizer então sim, vamos, vem</div>
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para onde voa o cabelo, para onde vai o caminho da verdade</div>
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o corpo procura depois o sul da palavra em fuga</div>
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tropical lugarejo da tua vida, amado Santiago do Chile</div>
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Lisboa, revisto, em Damaia, 2 de Fevereiro 2016</div>
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José Gil</div>
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