(a meu amor, pretinha Solange)
a água vem na estrada, a estrela fica ao fundo
chove saudade na rua, vai o inverno para a
primavera no eixo verde contigo
avança na calçada, pedra preta pedra branca
gostas de dançar, choro a cada passo uma
cereja do Fundão
abre a porta do quarto, estou aí com esperança
onde tu tocas há um lugar vegetal e verde
já no território da pedra em fuga ficas derrotada
o teu corpo coberto de cerejas vermelhas cor do
cabelo, em cada instante magenta
deste lado introvertido, envelheci à espera
a égua vem na estrada da árvore
da felicidade
antes de passar pela mágica Itabira de
Carlos Drumond de Andrade, meu querido pai
inspirador de Minas
como o barco de Ítaca, a sombra de palácios
na Cova da Moura, a casa, castelo bem ao alto
e descubro a relva nova de cada milagre
via sacra de perímetro em perímetro
vivemos em folhas simples, tatuagens de pele
recato do colo do corpo em seu abafo
toco-te feliz a pele no ombro, doçura
veloz é o tempo que te cruzo
José Gil
(9 de Fevereiro 2016)