(à minha mulher linda, Solange)
Que distância tem o lugar dos afectos
Um catavento de corpos a dançar na sala
Por uma palavra justa em cada secreto ouvido
Vamos todos procurar as letras dos sentimentos
Entre letras novas e usadas
Um baile, circo da lua na noite das tuas ancas
Em flor
Descobre-me essa palavra em fuga tão necessitada
De um exemplar e única ternura de canção,
Sobe as botas altas até onde espero nos filmes
A tela tem um vocábulo fora do dizer vegetal
Um leão no mato grosso, uma fúria de vencer
O mundo selvagem do teu flanco, pretinha, por aqui
Ninguém desiste de encontrar no labirinto a palavra
Entra o ferro vertical ao dorso do animal, a espada
Por um madeiro vertical ao corpo
O animal foge, já parece uma égua em fogo
Por um novo ossobuco, vence o desagravo , amor
O gás que vai projectar o objecto no espaço sob o
Atântico
Caminhamos por uma visão aérea do corpo deitado
Na planicie ampla e verde do chá
Desenho-te agora figura de cavalo na pesquisa da palavra
Encosta o teu ombro no meu, o traço vou iniciar na madeira
Qual tela para firmar as sombras dos músculos, as variantes
Anatómicas da égua puro sangue, a garupa, as espáduas, a crina
Vermelha como o teu cabelo, os flancos, as doces coxas, olha-me
Sensual e melancólica por causa da distância. Saberei
Que és a minha negra, saberemos amor depois despir a
Pele – tenho a certeza que te conheço por dentro, no
Momento exacto da montaria do Alentejo tinto
Faz sol e é janeiro, não faz frio, estou cego, beijo-te nos labios,
A natureza é a verdadeira fábrica da nudez dos tablets
Uma coisa para cada cidade,
José Gil