(à minha esposa jovem e linda, Solange)
chegam as flores na chuva miudinha às oito e trinta
já tenho uma hora de marcha, batem-me no rosto
os pingos leves como carícias e avanço pela floresta
até descobrir o leão preto. pode-se ter perdido de medo
como a palavra e outros animais mais pequenos
toda a rua é rápida de manhã cedo, como o silêncio que
não tem pegado a palavra na língua. será esta? não a
encontro no jardim
chega outra flor de cabelo maior que o leão, cor magenta
vermelha como o sol nas noites de verão junto aos piratas
toco os teus seios como rosas nos meus dedos, pena de
pavão leve para acariciar os mamilos, rodo, os meus dedos
de doce de moça
os cones crescem rosados como a aflição da chuva contínua
bebe amor agora o vinho Piriquita
desenho os teus lábios, sublinho a violeta no teu rosto claro
é verão aí, a fuga da palavra é noticia
regressa amor como o tempo e as novas flores, pretinha, com
as virtudes do inverno europeu o templo claro e o conventinho
escuro e sagrado para a minha língua, ergue a maravilha
quando passas a porta e entra.
José Gil