
(quadro de norman ackroyd, "brancaster roads", s/d)
dei à obra da casa um pouco de mim
a reviravolta do coração dos quartos
tudo começa na cama cega dos animais
distintos,
dei um beijo de sol a cada parede em cinzas
onde gelam as pilhas de livros e se escreve
o amor que vai chegar no verão
dei em mim um descuido não saberei mais
nada antes do estio apenas os móveis afastados
da solidão azul e branca
dei-me amanhã a crise dos que sabem e dos
que choram, as cadeiras de Maciel no ar em
carrocel, os líquidos das velas entre janelas
dei a nova prece a proximidade do eixo do mar
como o frio de Dezembro na Estremadura
S. Martinho do Porto e o sol verde nas ondas.
dei-me o salto de uma exposição para a casa
serei apenas o burro o animal inteligente que
vive comigo, bravo nos seus passos redondos
e obedientes com a sombra e a luz
dei-me a lua dos teus braços negros e brilhantes.
Chegamos á estação de Leiria, o peso das malas
novamente, livros e livros , só nos resta a praia
dei-me a saudade da areia – os olhos ficaram brancos -
o olhar ainda no branco movimento da espuma dos dias
traz ovos, colheres, ficou tudo branco à minha volta
crash só o nevoeiro é negro nas ciladas
como voltar atrás.
dei-me o conhecimento, o mapa apenas vos dá
caminhos abstractos, canta comigo junto á lareira
o trem chegou a fronteira sensível do manual escolar
dei-me um lírio branco para passar nos olhos
longe vou dormir e voar sobre o mar aflito
José Gil