domingo, 28 de agosto de 2011

corpototal 42



(fotografia de toto frima, "p1030567")


as laranjas, o que desce ao fundo
nas cores claras do morango que
não toma o nome da cor, o que
ondula do teu corpo na laranja
da flor ao fruto os recantos, as
regiões santas, as veias, as teias
felicidade conjugada entre o que
cintila e adormece em parâmetros
paralelos não sendo mais que um sopro

dói a ausência do morango dos teus
cones negros

José Gil

sábado, 27 de agosto de 2011

corpototal 41



(fotografia de lucile le doz, "la passion"


levemente, eis que os dedos tocam-te a face
não sou nada apenas o poema talhado e todos
os lábios incandescentes e atràs dos dias uma
palavra de dedos sépalas numa visão realista
ideias na devida altura da devastação da aventura
o mel toca todas as estações levemente, o mel
entre os dedos junto à fonte, a fome de vidro
as laranjas no vidro da grande mesa negra, a
mesma flor de laranjeira em vidro, pinto as
paredes e os jornais defendem o solo das gotas
perdidas da tinta, talvez um poema em cada
jornal na face oculta da talha da parede de línguas
incandescentes no concreto urgente da flor

José Gil

agruras




(fotografia de charlie jouvet, da série "the tributaries", s/d).


será este o meu aroma, faltou-me
apenas a tecedeira dos anjos, sou
curgidoso, como o actor que apareceu
na perna do palco estava a mais
e apareceu na ligeireza da luz
correu com flores de saudade azul
o telhado era alto como a casa
porque é que estou a escrever
o que estou a escrever, o dia livre,
a noite pesada, esqueceu o vago manto

ela avançou e saltou tudo não
passava da esteira da saudade
só a carroça – tem que ser a mantilha
cuido os teus artistas, ficamos todos
com o sol na janela larga da claridade
e logo deixas de falar – o palco vazio

tu achas que a actriz vai chegar e saltar
como a velha da carroça da palha

José Gil