sexta-feira, 28 de julho de 2017

A fuga da palavra 40

Traz a Ave

(à minha esposa linda sempre, Solange)

traz a ave amor preparada para o mundo
um universo único e exemplar
de terra e cal branca para a casa
à beira do oceano comum

bebe um copo pelas comemorações
quando faltam dois anos de vida

traz as cerejas para o abraço doce
que o corpo esconde a água
no paraíso de terra vegetal
nove horas de espera, sete semanas de paixão
no ouvido secreto de ser eu ou não sou no
subsolo do poema a percorrer o seu labirinto
por um poente nas pernas, a lua cheia

o horizonte conquistado ao pequeno mundo
das coisas simples da vida como namorada
água, música, irmã, amigo, sol, água
o luar  perfeito, o céu incompleto
as manhãs do mundo pequeno.

José Gil

15-2-2016

terça-feira, 11 de julho de 2017

A fuga da palavra 39

O CORPO

(à minha linda pretinha, amor Solange)

o corpo fala um poema devorante
o poeta é um leão, uma ave de rapina
águia vermelha pelos céus diminui
o tamanho do mundo,
por uma pequena peça de roupa
torna-se ladrão, vive em agonia

caminha veloz como uma gazela
é sábado, o poeta está feliz
sabe a armadilha da sedução
ama, devora os seios, o pescoço
por um pilar negro no meio do eixo
norte-sul do corpo, redondas formas
de sentir  um Deus aberto e plural
no barro da terra quando chove
corpo na lama, vestígio da origem
encontra logo a palavra certa

Lisboa fica amuada, a palavra não
lhe apareceu

não guarde o passado que o mundo é
tão pequeno
 
José Gil