quinta-feira, 25 de junho de 2009

bragança 1



(imagem do castelo de bragança)


junto à estação ausente, o fim do mundo
onde me espera – lá onde pôs os pés
a minha amada, gosta do frio e ri, muitas
raízes do rio junto ao castelo onde brilha
a terra, eu cresci a imaginar-te um plano
de abertura e as chuvadas sonoras de Maio

um dia num copo e um clarinete Bragança
como a rosa púrpura onde viajei, no melhor
humor, pensando bem na grande mistura

só dois cafés e uma árvore no lugar das tílias
no parque natural de Montesinho, os seios
junto à porta ninho de cegonha, nós aldeia
no natal, havemos de subir-te encantados
na casa de xisto contrapostos como arbustos

José Gil

corpototal 17: caruma



(pintura de pierre boncompain, "platanes en provence", s/d)


a manhã pela janela sem dores no chão
a caruma como agulhas que caem de véu
do céu. constroem um texto - tapete
castanho para escrever com os pés
a relação do corpo com a terra, a pedra
do outro lado do silêncio o murmúrio
rural, o pó da mudança, outras janelas
pela manhã a face do sol, enlaço a caruma
tempestade do corpo total em construção
dentro do céu, a voz do chão, com o calor
da parede e sete janelas com sombras
que respiram da margem longamente
o rumor de um texto ao arrepio da folha

José Gil

domingo, 21 de junho de 2009

corpototal 16



(fotografia de bruce davidson, "time of change (boy at blackboard), 1965)


a arte na opacidade verde do mundo, eco
para aspirarmos a uma revelação total
no jardim suspenso dos lugares, um
pouco atrás um pouco à frente
como a plasticina do texto, quem
ouve ainda o silêncio muito para
além dos braços cruzados junto aos
punhos, vira a opacidade azul e branca
das casas do mundo onde a mesa é
o mundo, eco, aí o fogo das tuas ancas
no telhado da iluminada superfície
como a área negra suspensa no mar

vibra irmã das tintas – somos cores

no outro lado Agosto espera-nos na
superfície da substância dos seios
sobre a mesa da poesia partilhada

José Gil