sexta-feira, 29 de julho de 2016

Poema de amor

traz o barro das encostas da mina, onde a árvore se segura
como as mãos seguram o corpo no quarto quente, bebe
o vinho fresco, no lugar do copo segura-me o catavento
vou voar da cama para o tecto, ouve as canções, sente
a respiração, os gemidos

todo o meu corpo treme na madrugada de domingo
como um flor de girassol ao vento

cobre-me as pernas com as tuas pernas 
no lençol de linho serei o teu
caminho

quarta-feira, 27 de julho de 2016

Poema de amor

(a meu lindo e culto amor, Solange, da Amadora ou Cascais a Itabira ou Belo Horizonte)

o corpo cobre a pedra, o  calçadão, o paredão em
Cascais nasceu, hoje, com sol, perna a pedra
na corrida de Madrugada

todos sabem que é uma metáfora da crise

vibram os lugares até ao Guincho
do Mato de Itabira com frio e chuva
constrói a casa no colo onde nascem 
flores e ondas nos nossos olhos

como o primeiro café da ética 

A Carlos Drummond de Andrade
está a folha transparente da inteligência

Cascais fica a um dia de Itabira, o dia mais leve
 
José Gil

Guerreiro Alquimista

(A meu grande amor revisto de 2013)
 
Estou preso, é para bater na testa, as mãos algemadas.
Estou cego sob a lua da música do guerreiro alquimista.
Bate o arco da bravura onde a coragem está presa da anona,
Fruta do Conde para beijar na boca, devo estar a sonhar.
Avanço pelo caminho, quero caminhar junto ao oceano
Todos os  dias antes do sol nascer, o fogo abre o sentimento
Frágil no doce olhar da venda
 
Solta as mãos para dançar, minha Pina Bausch, solta a venda, bate no crânio
Até à Pedra Viva, bate a astúcia de saltar, construir o corpo,
Recupera o poder no corpo livre da manga doce do beijo
 
Entre Birre e a Torre nascemos devagar sem a estranheza de Minas
 
Já não estou preso, tenho a flor do frio da esperança – a angústia
 
Ainda não há o movimento pessoal – liberta as amarras do conforto,
Vibra o primeiro passo na água salgada
 
Ainda fica a pergunta: quem vai dormir comigo o corpo em fogo?
 
O medo mora comigo, Cascais abre-se como vila clara
 
José Gil

terça-feira, 26 de julho de 2016

Poema de amor

(A meu amor todos os sábados)
 
Almas gémeas, corpo espelho, traz a barra e a torre
Deixa passar no fogo do corpo a espada do guerreiro,
A lua tida como começo do paredão, caminha bravo,
Avança pelas horas até à Catedral e sente a pele.
No lugar dos barcos o coração da areia levanta as velas,
Regressa ao sol pelos lábios, de Birre ao Guincho trago
A bússola e o mapa, só namoro o princípio do verbo doce
 
Oiço nos lábios os mamilos, os seios no peito, a língua,
Faz a luz na raiz inicial, Cascais tem o céu muito azul
Aos passos do beijo demorado
 
Guerreiro cada vez mais reconciliado com o oceano
 
Parto com o giz a lousa, a pedra a ardósia e a tua mensagem
 
José Gil

Poema de amor

(a meu amor em 2013, a felicidade)


O sol nasce na linha do comboio quando chego a Cascais
O teu regaço doce abre o rio, quente como a Catedral
Escrevo na ardósia o poema da madrugada, curvo sobre
O teu corpo com a espada guerreira da felicidade alquímica
 
A areia volta no vento dos teus seios e as ancas procuram
Com os dedos o seu jardim, toca a harpa dos bons tempos
Como uma pequena  nuvem no calçadão, chegarei ao Estoril
Mais fresco nos teus lábios, um outro mundo vai nascer mudo,
um novo tempo, meu amor jovem
 
José Gil

Poema de sábado à tarde

(à Solange meu amor, de casa a Itabira)
 
era sábado à tarde bebendo sumo de laranja
com muito gelo, possível de ouvir de Itabira
todas as palavras do oficio do amor criativo
 
Leve na sua forma, o verbo canta
entre as tuas ancas onde fica a raiz
vital
... 
no areal do espírito, Damaia re- constrói a casa,
freguesia  de energia vital acelera o coração
beijo o que está na terra, ajoelho e escrevo
leve como a alma no lugar do espírito
nascem nas minhas mãos de leite os teus
seios, onde a língua é lenta como o mar
E a minha barba faz trancinhas no teu ventre
De borboletas imaginárias, o amor é divinal
O amor é divino na tarde vegetal de sábado
Recordamos o Chile e o amor de Santiago
Falamos com esperança de Sevilha dos laranjais
Que D. Juan cristalizou. Vives, vibras amor

José Gil

Poema de amor

(à Solange meu amor e a Artaud, meu mestre
 
" (...) Por detrás da poesia do texto, está a poesia pura
 sem forma e sem texto. (...) Não se trata de suprimir a
 palavra articulada, mas de conferir às palavras, aproximadamente
 a importância que têm os sonhos..."
(Antonin Artaud)
 
 
hoje gostaria de não escrever, descansar nos teus quadris
bem frente à baia de Cascais para o café da manhã
um batido de sementes de linhaça e manga com limão
leite de soja, Kiwi, beijos e um abraço profundo
 
está escuro no intervalo das horas da madrugada e chove
 
para lá do oceano chegam os aviões como aves raras
de quem pode voar a mais pura das graças de continente
em continente, ferve límpido agora o dia, passam as horas
como as palavras, beijo-te as ancas no lugar da floresta
sem ver a árvore, vejo os pássaros, ainda falta para Julho,
 
para bater na pedra fina. Para rolar o corpo na areia.
Cascais é uma cascata verde e azul bem junto ao Guincho.
Só o vento escreve o alfabeto dos escritores da manhã
 
José Gil

segunda-feira, 25 de julho de 2016

Poema de amor

(à Solange, meu amor dia a dia)
 
Só o sol a nascer e o teu corpo no oceano, espero
Poemas como quem espera pássaros de fogo.
Cascais é outro ao amanhecer, são 6h e tudo aparece
 
Quem vai do Estoril a Cascais perde o andar e sonha,
As pernas acompanham as pedras no lugar da criação,
É para criar, partir o coração frio que te espera
 
Do outro lado do mundo, por uma flor de sal
O beijo percorre a língua e desagua no colo.
Cascais é a baía

Poema de amor



Pássaro de fogo para o teu sol de madrugada.
No calçadão, o dia nasce na cidadela de Cascais,
O mar encabelado salta a muralha com força.
Encapelado o oceano no teu colo, ave em caracol
Esperando os dedos no céu espelho azul da face,
Perco-me a olhar as ondas bravias nos teus seios.
Surfa para mim um impulso romântico para rodar
A porta e outra porta e outra porta vegetal como
A soja sobre o prato tropical da fruta com sol magro

Avança do outro lado do planeta sem máscara
Pássaro dos meus sonhos em redemoinho de águas

Amo os teus lugares e este espaço entre os olhos

José Gil

Poema de amor

(à Solange)
 
 
os poemas nascem como a pele doce das ameixas,
o sabor forte das tâmaras, como o deserto
oiço a minha solidão entre folhas de alface
férteis, saladas do meu sonho.
de Itabira a Cascais é o instante
de um dia límpido e exemplar
 
junto as sementes de linhaça, chia e sesamo
com anona ao café da manhã,
saberei o que me espera em Itabira,
serei mineiro nesta energia leve
de Cascais
 
a aventura é saber partir logo se chega
ao poema da terra, esse pó divino
que o teu colo lembra
por muito vinho amado
 
José Gil

Poema de amor

(ao impedimento do sol em janeiro, chove
à volta da lua a adormecer)

amo-te logo de madrugada, minha pretinha
de coração no andar por cima do corpo,
em análise no jardim verde como uma
estufa quente do meu sonho

um dia incompleto as horas frescas do dia,
com vento moderado dança, vira nos meus
braços, toco-te como nas páginas de um livro
uno, tangível aos seios mais claros, ainda é cedo 
na estrada da manhã, caminhada transparente
pelas pernas acima de um sonata de piano de
Chopin, um montinho para o prazer líquido, vamos,
onde vamos? avança com os dedos em creme no
jardim de relva negra, centra no ponto, uma
cereja para os dedos, o eixo frontal da vida
em fogo, pedra cal, o olhar perdido
na maior leveza do ser

José Gil

Poema de amor


(À Minha esposa linda e sempre jovem, Solange)

O poema é pó no pó do minério com ventilação
Sagrada da nossa casa no deserto oásis do umbigo
nos lábios grossos

onde está o vento de Minas, do facto avançado
de ver o sol seco o ar guarda o seio na janela
na rua mais clara dos dias onde vegeto por uma
terra de água, pela raiz nova do deserto florido
nas ilhas e nas rochas a tua palmeira das ancas
claras deserto de língua e palavras, fico mudo
avanço para ti  por um amor de fado.

José Gil

quinta-feira, 21 de julho de 2016

Poema de amor

os corpos habitam-se sem a ideia
do corpo da casa – o corpo tem cantos e 
recantos, esquinas e curvas junto à fonte
e às portas – os lugares silenciosos e quentes
são as caves com os animais

nós dormimos por cima com todo o bom calor

até ao final da noite chove, aqui nada só o som
belo, onde as flores saltam e as flores voltam
aos pés do poema nas casas de palha

volvemos o dia num bom tom de sol tardio


José Gil

Sak

uma pedra, outra pedra, ela vai ser 
apedrejada noutro dia de luz, uma
pedra ainda na pedra grande da beleza
a pedra fina e iluminada de dizer não

como se compreenderá por lapso
escrevi a história da beleza
 
José Gil

Poema de amor

contra a pedra quente
o lugar do corpo junto
ao rio no meio da floresta
é aí que procuro o mel

no campo tudo faço
para te encontrar, flor
silvestre e difícil
como quem olha uma ave

escrevo assim o
primeiro tronco
entre os cones da lua
 
José Gil

quarta-feira, 20 de julho de 2016

Poema de amor

119
 
(A meu amor inteligente e terna paixão, Solange)
 
 
chapa a capa do sol
como a pedra a ferver
dentro das tuas costas,
sou areia nobre
no passo que revela,
há fronteiras abertas
sem conflito, e depois
sonhar, crenças e práticas,
artes contemporâneas. na 
transferência estética
a realidade paralela
no plano inclinado do
teu corpo no meu,
uma matriz de árvore e
de homem
 
José Gil

Poema de amor

(A meu amor moça bonita, Solange)
 
Traz o triplo jasmim manga,

O eterno bolbo das flores, a pomba 

De lírica, lírica rua onde abres as asas
Por voares sobre mim nua no lençol de
Linho dourado
 

As mãos do mar branco 

te aguardam para outro 

rio, transporta a fortuna 
Dos cabelinhos doces
No quadril do silêncio
 
José Gil

A morte e o amor

(A meu amor também preocupado com a paz e a vida em todos os continentes, Solange)

 
Nas ilhas gregas, as crianças sírias que já morreram
Foram assassinadas por todo o mundo podre.
Nas ilhas gregas, os bebés sírios que já morreram
Não vão conhecer os meus netos e filhos nesta europa
Também maçã podre, comboio e carruagem a meio caminho
Quem e como os assassinaram ultrapassando todos os limites
Nos livros dos séculos de violência e crueldade.

Estamos vivos, meu amor, até quando? E avançamos nas
Pontes e plataformas de solidariedade e esperança.
Amamo-nos por um tempo novo em todo o mundo.
Às vezes, as palavras avançam com o cinismo. Quem
Ressuscita estes homens e mulheres – e a sua consciência
Enquanto conversamos de um oceano ao outro e perante
Os bebés assassinados nas praias confirmamos a linha trágica
Mais um ano?

As palavras ficam como dois verdadeiros actores do Drama
Do amor não próximo,
Morreram no ventre do Mediterrâneo incerto, a sede em fuga

José Gil

Poema de amor

(à minha namorada viva, Solange)


Um simples abraço de vocabulário, cai a chuva na casa
A pedra solta, a telha do teu colo, do teu coração
Vegetal e cristalino. Que animal somos na mancha negra
Do teu corpo branco rosa, negrinha minha, amor de água corre
Em Janeiro de namoro pela palavra diária, vício incansável
De escrever todo o corpo várias vezes, graffiti no muro da casa,
Tatuagem nas pernas, coxas  e depois à volta do umbigo sensível e
Fresca a fresta do absurdo silêncio, cavalgo a galope só a respiração e o gemido
Consentido na floresta negra



José Gil

Poema de amor

(De amor a meu amor eterno Solange)

Rosa incandescente da púbis do esquecimento
Secante à vida todas as noites da palavra ao acto.
Não só o teatro para o teu corpo nu,
Ainda a língua aleatória para o poema que vive  de si,
Materialização de sinais
Eu, isto é, os lábios de óleo, estamos longe,
A mão leva-a o vento, somos esse ar agitado por
Um corpo sempre duro, essa revolta dos sentidos,
Nas esquinas urbanas da grande cidade, isto é, o dia
Da ventania, isto é, o seu osso crú

A festa da manhã é acordar sempre contigo na gaivota da tensão
A própria realidade a romper o silêncio, recuará no 1º de Agosto
Deste ano depois de toda a água do oceano com memorial passado,
Onze anos de prazer nos olhos d'água que choram a carne viva,
São as cordas, os eixos do oceano Belo Horizonte-Lisboa
Germinação de águas vegetais, paraiso entre a parte e o todo
Dois em um como a papoila vermelha, invisível na sua pureza
Oculta, amar o mar na sua fenda de seiva tangível

Todo o corpo é um todo penetrável no limbo
Da sua revelação completa

José Gil


quinta-feira, 14 de julho de 2016

Montinhos


(A meu amor único e exemplar, culta Solange

A orquestra do Titanic toca durante o naufrágio
do prédio na dúvida soberana dos montinhos
nas ondas de gás – ela trinca a hortelã do Martini.
à saída de cena morre-se sempre antes do tempo,
activos sólidos ninguém julga, as grandes notícias
são as maiores diz ela, são as maiores as de iniciativa
própria blindada. Dá-me uma surpresa nas entrelinhas,
um cabelinho com um sinal nos cones negros como
montinhos quando estás de frente, vamos em frente, sempre
para a frente do trânsito, das corujas, das girafas.
quero nesta casa outra noite sem dia - o oceano todo em baile,
os mamilos rosa em que eu
embarco sempre de novo
no rigor com o perfume
da época 

o país despido junto ao corpo – há tempos de voar como falcão
vale mais uma ruptura a curto prazo, o vento rondou
em todos os jornais, um pacto de namoro
onde não há nada a clarificar,
a possibilidade
do que vai à
pele

José Gil

Poema de amor

o verão que chegou é o teu corpo,
a tua boca ferve, a tua alma
queima em pingos de suor
em plena época das castanhas.
a fervura da tua língua percorre
o teu corpo findo no meu corpo

procuro-te como a trovoada de
ontem, altas temperaturas no
corpo alagado em trinta minutos,
hoje a alegria do sol quando vens na
estrada já me aquece os pés.
como muita gente tenho os pés 
frios todo o ano, cheiros e
caminhos a perder nas piruetas
do discurso do poeta, quem não gosta
do corpo da mulher crua e musical


José Gil