segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

A fuga da palavra 15

À minha namorada linda, Solange


Porque me dão
Estrelas, pão, prazeres
Cavalo, música
Namorada
 
Onde está o vocábulo?
O único, o exemplar
A cicatriz viva
 
Que seja olho de ave
Sem sombras, a luz plena em
Espiral no seu umbigo
A gaiola para guardar a palavra em fuga
Em arame de aço
Brilhante bordado a folhas de alegria em prata.
Diria que era a liberdade em botão de rosa
Como é que deixarão sair?
Quadrada como a mesa dura do amor
Ao longo do corpo líquido e do ruído natural
 
A natureza faz-me chorar a crispação da distância
Das hormonas em fúria
 
Sou um adolescente. Não sou o velho César
Na raiz do pêlo, a tua penugem.
 
José Gil

A fuga da palavra 14

(À minha esposa linda,Solange)
 
Onde se terá metido a palavra?
Com o teu corpo rosáceo de amor nocturno
Voo rente aos mamilos sem falar do efeito surpresa,
Cabelo avermelhado junto ao céu,
Estrelas avermelhadas,
Cicatriz na carne,
A casa de cera para a palavra em fuga.
Não mexo
As ancas no suporte da mesa,
A palavra sabe o prazer da morte.
Na sala ampla, um dia de cada vez, dias felizes,
Foge, como atrás dela, onde perdi o rasto.
 
Alguém se foi
 

José Gil


 

quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

A fuga da palavra 13

(à minha mulher linda, Solange)
 
 
Que distância tem o lugar dos afectos
Um catavento de corpos a dançar na sala
Por uma palavra justa em cada secreto ouvido
Vamos todos procurar as letras dos sentimentos
Entre letras novas e usadas
 
Um baile, circo da lua na noite das tuas ancas
Em flor
Descobre-me essa palavra em fuga tão necessitada
De um exemplar e única ternura de canção,
Sobe as botas altas até onde espero nos filmes
A tela tem um vocábulo fora do dizer vegetal
Um leão no mato grosso, uma fúria de vencer
O mundo selvagem do teu flanco, pretinha, por aqui
Ninguém desiste de encontrar no labirinto a palavra
Entra o ferro vertical ao dorso do animal, a espada
Por um madeiro vertical ao corpo
 
O animal foge, já parece uma égua em fogo
Por um novo ossobuco, vence o desagravo , amor
O gás que vai projectar o objecto no espaço sob o
Atântico
 
Caminhamos por uma visão aérea do corpo deitado
Na planicie ampla  e verde do chá
 
Desenho-te agora figura de cavalo na pesquisa da palavra
Encosta o teu ombro no meu, o traço vou iniciar na madeira
Qual tela para firmar as sombras dos músculos, as variantes
Anatómicas da égua puro sangue, a garupa, as espáduas, a crina
Vermelha como o teu cabelo, os flancos, as doces coxas, olha-me
Sensual e melancólica por causa da distância. Saberei
Que és a minha negra, saberemos amor depois despir a
Pele – tenho a certeza que te conheço por dentro, no
Momento exacto da montaria do Alentejo tinto
Faz sol e é janeiro, não faz frio, estou cego, beijo-te nos labios,
A natureza é a verdadeira fábrica da nudez dos tablets
 
Uma coisa para cada cidade,
 
José Gil

quarta-feira, 30 de novembro de 2016

A fuga da palavra 12

(à Caetana)
(à Cristina)
(à Solange)


nasceu caetana gil, ao domingo
uma mistura de música de Caetano
Veloso e Gilberto Gil,
às mães a poesia de cada tempo
José, Teresa, Cristina, voltou a
alegria pública

a alegria do corpo renasce em cada
nascimento, a coluna tripla da alma
como uma canção de matinas, a flor
do sorriso da fortaleza da família
em crescimento

é na Graça que vai ter os primeiros
espelhos da vida.

José Gil
23-1-2016

A fuga da palavra 11

(À minha princesa de Itabira, Solange, Terra natal do poeta Carlos Drumond de Andrade
 
Que é um poema? A palavra feita carne como
eu amo a poesia de uma maçã muito verde,
os laços da vida com a minha pretinha
 
vamos, pomar amado nos teus seios vegetais
vem do mar, na onda primeira da madrugada
a água cobre-te o corpo, a carne da palavra,
o cristal do osso do luar em cada momento,
em cada lugar em que nos sonhamos
 
vamos às casinhas, ficam bem nesta avenida do
oceano, todos alegres, vamos pelas pernas acima,
as mãos quentes, num comboio de esperança
 
chegaremos a casa no primeiro de Agosto, é a fome,
apontamentos, esboço do namoro, escritas no corpo,
no banho e no quarto
 
iremos depois ao império das Mesquitas
quebrar a união do príncipe, saberás amor
nesse dia debaixo das arcadas do palácio
o sol e a sombra da rua inteira – vale do amor,
abre por fim a romã, língua afiada pela poesia
em toda a relva curta e molhada, dura e cristalina.
 
José Gil
 
23 de Janeiro 2016

quarta-feira, 23 de novembro de 2016

A fuga da palavra 10

(À minha princeza pretinha, Solange)
 
Meio a meio o prazer da manhã cedo
Onde se perdeu a palavra pelo pão fresco
Do café, pedra no fundo do poço da
Vegetação da consciência
 
Prendo o meu olhar ao teu, na mesa
Do pequeno almoço um sorriso de
Tangerina mecânica, será o grito do
Gemido pela respiração de um ananás
Florido na praia em frente, tão clara ao sol
De Janeiro chuvoso.
Um Deus para cada passo, dói o pé da
Esperança no caminho do cabelo da cicatriz,
A penugem com abertura para a frescura de
Um tempo novo. A tarde será para a caminhada
Palavras com passos simples como irmã, música
Namorada, o vigor do ferro em brasa para avançar.
 
José Gil

quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Fuga da palavra 9

(À minha princesa negrinha, Solange) 
 
Segura todas as maçãs verdes na saia curta,
O teu olhar sobe das botas altas de montar
 
A cadeira é dura como os teus olhos num quadro 
naturalista, épico, sensual em Itabira. é Janeiro 
nos algerozes da esperança no teu ventre,
altas as pernas na mesa torneadas, 
o lado sagrado da casa, doce o mel para o leite quente, 
o beijo inocente da carga gostosa na vila verde vegetal, 
as casas e os lotes todos alinhados como palavras novas 
junto ao mar imenso como o amor entre dois continentes. 
só vejo a distância e choro os folhos do vestido rodado, 
princesa negrita todo o dia de sol. 
  
José Gil

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

A fuga da palavra 8

(à minha princesa pretinha, Solange)
 
O ritmo da corrida dos corpos na relva,
São seis horas e escrevo na iniciação do
Dia, chove no teu cabelo toda a noite
Húmida, é a saudade, um grito de solidão
Na casa da madrugada com chá de cidreira,
Torrada de geleia de marmelo e morango.
Volto pelo mesmo caminho com o mesmo
Ritmo de dança sensual, sinto os seios no meu
Peito e os quadris nos meus, osso a osso todo o
Corpo é móvel em Lisboa, em Janeiro. Que a minha
Canção chegue a tua casa limpa e pura. Luz.
 
José Gil

quinta-feira, 10 de novembro de 2016

A fuga da palavra 7

(À minha princesa do mundo intercontinental, Solange)
 
 
Voa no perímetro da maçã verde
És tu, seguro-te dura nos dentes,
És o rigor exemplar da terra fértil
E escura
Não tenho areia nas mãos, nos teus seios
Só brilhantes de cristal, quente a pele
Do café, só café duplo para beber
O leite branco, vou escrever à tua frente
Em Agosto na área da aresta da mesa em
Que estás deitada de joelhos na casa da
Hipótese, meu cão da esperança
Para encontrar logo a palavra
Justa.
 
José Gil

A fuga da palavra 6

(À pretinha linda Solange)
 
A fuga da palavra entre dois continentes
De vinho e fruta, uva e manga, maçã e coco
Passou o navio no mar descabelado do atlântico
Levava a cortiça da tua árvore sensual em
Seios de mel e força,
 
Passou a vida na
Terra de Minas.
 
José Gil

terça-feira, 8 de novembro de 2016

A fuga da palavra 5

Bebe a Bíblia pelo lado do vento
Habita a palavra nesta casa
Pequena dos subúrbios
 
Carnuda a boca, espera outros
Lábios vermelhos na tua face
Branca
 
Chegará Agosto e o sol para dourar
O rosto, amor movimento abissal
De todo o corpo sobre a cama, esperança
De nomear o inominado na circunstância
De amar de mais
 
José Gil

segunda-feira, 7 de novembro de 2016

A fuga da palavra 4

(à minha rainha Solange)
 
Traz a águia no flanco, uma palavra de rapina
Eu lembro-me de Belo Horizonte há onze anos
Quero segurar o colo e a língua, o cabelo mínimo
O mel bastante para alegrar  Janeiro para a luz
Da felicidade memorial  de todo o animal selvagem
Um desejo de lençol de linho quente, um olhar
Preso a uma face encantadora a abraçar
Carlos Drumond de Andrade, a foto do facebook
 
Contra a solidão que parte com o sono, beijo-te
Para uma palavra em fuga para Itabira.
 
José Gil

A Fuga da palavra 3

(à minha rainha Solange)
 
Abre os flancos no côncavo do meu peito, deita a cabeça
A lua cheia e complexa da leitura do poema, o cabelo
Vermelho angelical, a casa mais clara de Minas, dobra
As pernas na mesa, um copo de vinho de saudade, o telhado
Do terraço da mão dada, não posso deixar de olhar para ti
A palavra em fuga no recanto da tua asa negra, o precipício da Vida num lugar feito poente, traz o brinco que eu nada esqueci
Para fazer um anel da nossa união - uma cereja fresca
Para dar canção, para dançar.
 
José Gil

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

A fuga da palavra 2

                                                            à minha princesa, Solange
 
 
Abre o braço da asa inferior por um carinho
No caminho das uvas do sol da mão por um dia
Claro, numa manhã de Janeiro
 
Fico como sempre, em casa onde regressei vivo
Por um descanso solitário numa estátua de corpo
Total junto ao peito, cristalina a lua do novo tempo
A posição da janela onde olhas o movimento
 
Abre a asa da casa, a portinhola da anca, vamos voar
 
José Gil

quinta-feira, 3 de novembro de 2016

A fuga da palavra 1

Um dia faz-se, constrói-se enquanto cantas
vem do duche, no outro canto da casa a tua
voz, encantas enquanto respiras solta
o teu abafo

Na manhã aberta muito cedo, vibra comigo
Este caminho, estrada 96. Por um memorial vivo
A casa de pedra, o lugar dos amigos, alta, alto
Falas nas ruas da vila da praia, nos subúrbios da
Grande cidade por uma romã nas ancas, a
Igreja está aberta para a missa das sete horas

Os barcos chegam, a terra toca a lota e beijas-me
Quero um país mergulhado todo o ano no sol
Sombra só nos mamilos castanhos por uns seios
De canção brasileira.

José Gil

terça-feira, 18 de outubro de 2016

Poema de amor

O lugar do vento, catavento o teu cabelo na rua clara
Larga junto na fonte marca invisível no teu ventre, as
Pernas dobradas, de joelhos contra o meu corpo
Erguido ao chão do céu
 
Enquanto faço o chá de cidreira bebo a fonte nos lugares
Vegetais das flores de encanto
Como o ananás na capela sagrada para descobrir o Ossobuco
De Itália nada sei depois para lá da folha quadriculada
Das mil folhas do ventre junto aos seios
O seu sumo claro de manga fresca, o queijo da serra e o
Teu pão na alma nova do teu olhar, um ensaio clínico ao
Teu andar na calçada portuguesa, cão a cão, a paz e o
Sossego, o néctar no teu cabelo, os caracóis a ondular
As ancas monte abaixo, vinho fino para beber
Nas alturas certas cadelinhas na praia.
 
José Gil