quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

a fuga da palavra 23

(à minha esposa linda,Solange)

desenho negrinha o teu seio na palma da mão
tatuagem erótica da saudade por um fado de alfama
no teu conventinho, rezo toda a floresta do novo dia,
caminho pelos trilhos de amor, viagem nocturna de
andar em terra com solavancos de vales do céu azul,
azul céu do meu espírito para atravessar esta porta
dezenas de vezes até tremer as minhas pernas

procuro-te por uma palavra plural e justa
cor de romã, sabor de amora feliz, Janeiro que passou
um dia para cantar ao sol das matinas. Não chove.
o lugar mais certo do fundo da terra, o centro onde
colocas uma laranja florida, neste mercado de Benfica,

o andarilho chegou primeiro pela fome - na porta do restaurante.

por uma moeda invoca a salvação da reforma. Por um canto único,
o verde do teu vestido novo

procuro as Pedras da Geórgia, os parâmetros lavados das pedras frias,
inchadas ao verde da saúde do acaso

despe o poema, amor até ao poente musical.

José Gil

quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

a fuga da palavra 22

(A meu amor lindo, Solange)

Vamos, vem amor
à fruta no pomar dos afectos
Despe a alma da cintura do vestido rápido,
Uma fuga leve para a palavra pura, um
Lugar reservado no coração direito,
Um templo para os Deuses únicos
Traz-me o ícone do teu ventre à lingua
Como Cícero resolveu todos os problemas

Que animal somos no intervalo das águas
Por um Brasil mais perto, a mesma ortografia
A mesma palavra em fuga venenosa como o mosquito
Passa rápida pelos dedos de cera
Uma viagem longa para o teu colo

Vamos, amor, vem a Lisboa às sete
Colinas do tempo novo
Praia grande onde mergulhei jovem no teu conventinho
Nadando por um poema verde
Trinta e três anos  de correias no cavalo
Para montar todo o dia.

José Gil

sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

A fuga da palavra 21

Amores Perfeitos
 
(À minha jovem esposa sempre, Solange)
 
Polpa de tomate vivo na mesa
Para preparar os Deuses,o triângulo inútil
Vivo na fotografia todos os parâmetros dos corpos
Colados ao amor de uma década
O silêncio de Belo Horizonte interrompido
Por uma respiração mais profunda
Cortar cabelo e barba e bigode grandioso
A trilogia de um vaso de amores perfeitos
 
Vamos agora ver no Largo Cristóvão da Gama
Os corpos no café Wanda desde 1973, o dia
Aqui nasceu ás 7,23h e já estava a escrever o
Poema para encantar a manhã, só o sol
A laranja do sol aberto no sentimento de saudade
As uvas que comíamos no jardim do Mercado
O lugar marcado do namoro por duas mandarinas
Do meu coração, abro-as gomo a gomo com
Os dedos grossos de te tocar.
 
José Gil

segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

A fuga da palavra 20

(À minha esposa sempre jovem, Solange)
 
Chove,
Manhã inútil
Candeia das tuas botas altas de montar
À frente, só prédios altos da Damaia de Baixo
Agora Águas Livres,
Coxas grossas
Esfoladas das minhas mãos macias
E sensuais, arranhas as unhas do sentimento
Vamos, amor no alcatrão molhado
À sua beleza negra e forte em todas
As estradas vizinhas.
 
José Gil

A fuga da palavra 19

(À minha esposa jovem e linda)
 
O amanhecer com chuva escurece o dia. Fecha
A luz da rua às sete e trinta, ando sem ver, caminho,
É uma luta inútil, basta esperar quinze minutos
Para te ver chegar com a luz do afeto ao café
Por um bolinho de bacalhau e uma bica,
Iluminação da minha alma
Seios claros nos lábios grossos, nariz black
Como a neta, à frente os primeiros carros,
A minha alegria e o teu abraço
Deusa de Deus confuso com oração forte.
 
José Gil

A fuga da palavra 18

(à minha mulher linda Solange, pretinha)
 
É o meu, o nosso tempo o que
Se passa hoje na Dinamarca
Das tuas pernas em movimento,
No movimento das minhas
Cruzadas
 
A que distâncias estás, amor
Procuro o mapa dos novos aviões Azul
Prontos a rodar contigo de Belo Horizonte
O corpo desta mulher é um copo de sumo
De laranja fresca e doce
Uma gota de orvalho ela também é
De saias avanças, o fogo está entre nós
E a revolta
 
Como os animais, a nossa vida é pura
Como as línguas do inverno.
Nos joelhos febris
A candeia acende-se
Há luz por todo o lado
Como a cinza de Hiroshima
Ardem os países em guerra.
Que significa isso,
Um corpo ama outro
Corpo e perde-se.
 
José Gil

sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

A fuga da palavra 17

Refugiados
 
 
À minha esposa linda, Solange, negrinha
 
És o bebé que morreu na praia
Arame farpado das nossas consciências
Nas novas fronteiras antigos destinos
O choro acompanha-me para dentro
Da Europa
Como a um refugiado,
Começei a escrever como um refugiado
Em fuga da palavra sem destino na
Suécia, Inglaterra ou Alemanha
Até sinto-me um refugiado
Sem bens na Dinamarca, país podre
Pode haver em mim alma de árabe
Procuro-te entre eles, mulher, prazer,
Meu amor gostoso neste carnaval
Da europa, dificil até para Deus
Um Deus Plural, único, mais para uns
Do que para outros
Olho do oceano atlântico
Para me veres no PC-Skype
Pelo celular a minha voz mais perfeita,
Sedutora, tenho, amor o meu mel
A ele te juntas para evitar a morte, só
Resgatados no mediterrâneo
Vem amor, sem torturas, vamos
Fugir da morte grega
Com bolsos de desejo, onde
Guardo o falo para não sentir o
Imcompreensível século XXI
Onde o mar abre para a eternidade
Caminha comigo com água pela cintura
E entra na areia europeia
Com o teu grito nu
Sem voz
Só nudez
Amarga.
 
José Gil

A fuga da palavra 16

Andarilho

À minha linda esposa, Solange

Entras e sais veloz do café, rua café
Café rua, andarilho de todas as madrugadas
Dos meus pesadelos de fronteira entre
As loucuras possíveis, é uma corrida inútil
Por uma moeda, uma bica, a roupa usada

O teu corpo rompe a bolha do cansaço
Como a linha do desejo, o meu conforto
Amo-te todos os dias
Não conheces o andarilho, namorada

José Gil