terça-feira, 28 de junho de 2016

Poema de amor

(à minha esposa, a mais linda e jovem, Solange)

o filigrana do umbigo procura afinal as mesmas palavras, vamos, sim
no lote no alto de cascais, o ouro das pedras, a bicicleta para chegares
depressa à praia das Moitas junto a Baiuka, podes cantar o destino frágil
que o Brasil e Portugal atravessam. dias e anjos é nossa senhora da conceição

há guitarras na muralha por um fado novo marítimo, dou-te um beijo e
fico de casa, morena da ilusão de um amor sempre presente.
 
José Gil

Poema de amor

pelo ar aberto que bate junto às veias
abre-se a página do oceano, a rede é fina
são sete horas, estou a fazer o calçadão
não passas na música espiritual, comes o
pão dos nove cereais
 
o desemprego assusta o sol que se derrama
na manhã quente junto à praia

ficarei cor de chocolate onde espero o teu 
corpo rosa carne viva e os teus cabelinhos
nos meus dedos de hortelã, o chocolate
derrete onde a folha azul voa com versos
não tenho língua, só voz para dizer do nosso
amor - estamos em Janeiro e Cascais nasce cedo

José Gil
__._,_.___

Poema de amor

(à minha esposa, a mais linda que eu amo, Solange)


vibro pelas curvas dos lugares na mesa de madeira, o território
da pele, o lugar dos dedos longos, toca a música onde todos
tocamos por um saxofone e uma esfera e outra esfera de metal
no cruzamento das pernas, meu amor és a felicidade quando
guardo por ti o teu anjo dos milagres onde o mel guarda fogo
e os músculos se desenvolvem por um tempo novo,

caminha como um cavalo no painel equestre. a égua avança sempre
 
primeiro como a manhã em que te acordo cedo

José Gil

sexta-feira, 24 de junho de 2016

Poema de amor 11

(à minha linda linda esposa numa manhã de sol em Cascais)

percorro o espaço à procura do lote de onde se vê o oceano
vibro as pernas cruzadas no musgo da construtora de sorrisos
a asa e a casa na anca do chá branco.  Gostas?
 
Com Pão grande
Cascais fatiado entre as letras e o céu todo azul, bebemos amor
piriquita, um devaneio ao almoço de gambas na praia - ficamos
vermelhos na estante dos seios fartos, quero beber os mamilos
e voar. Como é o teu lote em Itabira?

Um lugar para os nossos,
sonhos mil, poemas de amor no Chile, Santiago.
 
José Gil

quinta-feira, 23 de junho de 2016

Poema de amor 39

quando o sol quebrou o horizonte
no limite da escrita e da vida, dorme
por mim a noite no teu colo de cerejas
onde perco os dedos húmidos
 
pesquisa o sol outras paragens, para lá
da parede onde reflete o branco e sonha
 
estou no paredão onde os passos são letras
e oiço o lençol do mar sem frio, abraça o poema
e ele fica novo
 
José Gil

Poema de amor 38

(A meu amor profundo, Solange)
 
“a vida é grande / tu bem o sabes / pois o caudal da tua alegria / transborda por todas as estruturas da Vida.”
“nem se adormece na flor do inverno.”
Jorge Vicente
 
 
O poema é um cinto litúrgico, caminho com ele entre S. Pedro e Cascais
E ardo de sede calcando a relva e o basalto das mãos de pedra fria.
Enrolo-te no cinto bem próximo das chamas do corpo, como uma casa a abrir,
As portas breves para a floresta do caudal de mel da nossa alegria comum.
A arder inscrevo-te redondo e global a paixão, nem se adormece na flor do verão.
 
Dançamos o samba da Escola Viradouro, o vento está agreste contra a leveza da
inércia  no húmus espiritual. Não posso ficar sozinho em casa, não posso adiar
mais uma saída onde se encontre terra solta, sílabas de amor e morte, o erotismo
mais feliz como lama sagrada, igreja, ruínas, frescos, anchovas dessalgadas e
alcaparras misturadas neste almofariz de letras e sentidos. Tudo o que quero
avança entre o cristal das lágrimas de ontem e a alegria breve do meu país como
creme de maçã, natas e whisky.
 
O poema já é o próprio almofariz de chocolate e banana da madeira para evitar
as lágrimas nas fachadas limpas das nossas faces, dói
 
A nossa vila é uma fábrica sensível com suburbano delicado, não suporta
O bacalhau seco ao sol, prefere o seu peixe fresco, não quer as moscas de um
Deus maior como fruto da alegria de hoje, a tranquilidade da relva na varanda.
Não posso ficar mais neste quarto, gela de calor. Há ainda amor alma para nós,
Para a largueza do voo sensual na roda das ancas e das árvores, o teu corpo
Já é labareda, auréola para nós singular e crispada numa noite de ondulação
Forte. A luz das coxas é uma noite sem sombras, o teu aroma de madressilva
Já inunda as avenidas da marginal do oceano, a vida assim é grande, tu bem
O sabes pois o caudal da tua alegria transborda para todas as estruturas delicadas.
 
José Gil

quarta-feira, 22 de junho de 2016

Poema de amor 37 - Graffitis no comboio do teu ventre

(à Solange, minha Princesa em 2016)


A minha poesia é feita de um excesso demiúrgico, Cassiopeia sensual
vegetal dentro do meu ouvido, concha na solidão dos Campos de Algodão
entre a Buraca e Damaia, comboio das 5h38h, contrariar a efemeridade de quem vive
aqui há 40 anos como lugar de conforto para te receber os seios.

Morder o pescoço, águas livres do nosso enamoramento, as papelarias,
os cafés Apeadeiro, Vanda, a cervejaria Rio Bravo, Postigo, o vandalismo
da estação da Damaia de Baixo com a sua chuva constante e singular,
a passadeira para a Cova da Moura, a poesia no nervo dos clandestinos
que saltam as portadas da segurança para os comboios, os roubos constantes
nas escadinhas no lado de S.Cruz de Benfica, aqui a poesia é como os
graffitis, iniciática, nela procuro o simples, o elementar, o mínimo, na
periferia do poema e de Lisboa, combate de cães ferozes e feios.

Um dos grandes corações séniores do Alentejo, joga-se às cartas nos
bonitos jardins da Câmara e da freguesia das Águas Livres, o teu amor,
desenho no comboio do teu ventre com a boca suada do trabalho 

José Gil

terça-feira, 21 de junho de 2016

Poema de amor 36: o olhar do cravo vermelho: os soldados e o povo

(Aos mil poemas de meu grande amor, Solange)


Na rua, fizemos amor em Alfama e choveu um pouco como
hoje. Jardim e Miradouro da Graça, poeta Sophia de Mello Breyner

Vou a Fátima, rezarei por ti onde tudo começa pelo
amor - a arte,  depois tentarei o banho no oceano que ainda
não consegui desde ontem, tem estado sempre a chover.
preciso de uma pausa para ir ao cinema e jantar contigo.
vens em Agosto, amor? dez dias para confraternizar a praia
de Cascais com o trem que apanharei  hoje ás 14 horas.
receberei do teu conventinho o circo do sol, o seu dragão.
todos saberemos que se é novo o ano, será nova a área de
serviços, soldados de uma paz equilibrada, um caso de
séries como as uvas no teu ninho, uvas brancas sem
grainha, depois telefono, a seguir ao jantar, vai ser um
dia intenso para um ano intenso. amo-te com flores
brancas de alegria pura, as pedras já estão cá fora e gostam
de marmelada quente com bolachas da avó

José Gil

Poema de amor 35 - Entrei na água às seis horas como felicidade

(à minha mulher linda, noivada, Solange

dói a carne cortada, toda a bomba 
entre as orações de Deus, é melhor
deixarmos  as coisas como estão


à hora da morte, o pai está bem
ninguém volta para o hospital onde
só se pensa na família e é cada vez
mais violenta a sua defesa, cura, alegria,
os dias são alegres nas fronteiras de
agosto  com flores e frutos de Agosto:
amêndoas, alfarrobas, no seio fértil
de frutos secos o ar lúcido dos figos

 
viajo entre Algoz e Tunes, o lugar da Oura

Poema de amor 34

a  meu amor grande, Solange, brava esposa quero-te aqui hoje
 “arte sem medo / arte para ser / arte verdadeira / movimento-amor.” (Jorge  Vicente)

Estou sobre a Ponte 25 de Abril, sonho que regresso de Setúbal ao fim da tarde,
um rio largo e lindo, prata azul para encantar os olhos até Casa, das janelas da
porta vê-se os olhos
Sonhadores, o mais íntimo e colectivo que todos temos, à direita a Tapada da
Ajuda
Para continuar esta beleza: arte sem medo, arte para ser, arte ambiental,
verdadeira,
Performance da alma querida no fundo do estômago inchado de silêncios e
cicatrizes,
Movimento amor entre as ancas, para preparar a ida amanhã de madrugada,
caminhar
Aqui na freguesia nova da Amadora, Águas Livres minha terra há 40 anos e
meio,
O cafezito do pequeno almoço  para acordar nos teus seios no correio no alto da
Damaia
Frente onde te envio as prendas de amor. A dimensão infinita da tua excitação
nos meus
Lábios, estou a aprender a correr na hidromassagem para te apanhar nos
momentos
Vulneráveis, tristes, temos que ser fortes contra os diabetes. todos em versos de
massinhas douradas  descobertas com mágoa neste ano de dois mil e quinze


José Gil

segunda-feira, 20 de junho de 2016

Poema de amor 33

e o teu pézinho amor lindo ainda doi?
demora tempo a passar
meu amor lindo, demora tempo
mas vai passar com o verão,
coloca o pé sempre ao sol e dentro de água com sal
 
anda sempre, nunca pares
anda, anda devagar se necessário mas anda
e toma os remédios
do médico
 
amo-te tanto, escrevo-te hoje como um poema
o ano está quase a mudar e estou só
 
escrevo para sobreviver
és a mais linda, a mulher
transatlântica
que me deu tanto amor
 
beijo e beijo
pensa em mim
eu rezarei
para o novo ano, linda linda


José Gil

Poema de amor 32 - O Amor e a morte

Trago  no colo a morte
entre duas linhas infinitas de comboio
nos limites de ferro de Cascais
 
salta a verdade pelas grades dos dedos,
hoje era o dia das tremuras
entre duas linhas infinitas de comboio

plenitude de um epitáfio
junto às cerejas de um repórter de tv

à escala global pouco sabemos da aridez da morte

quanta vida se faz ao espelho!
salta da luz no nitrato
o comboio como sempre passou,
tem um horário que a morte desconhece

Ela ainda o beijou na gare junto ao Sumol
Tocava-se o Chico Fininho

José Gil

Poema de amor 31

Nem o azul vento do oceano
 Nem o portinho abrigado de Armação
Te dirão quanto te admiro

O vento corre na turbulência da
Esplanada da Nilo, entre a razão e a
leveza do café e da empada, há outros
caminhos azuis do Portinho a Portimão

Traz o pão de Santana da Serra e Monchique
Podemos tomar o chá de tília ao 1º de Maio

A casa ficará sempre iluminada pelo pai

Nem o azul da sua ausência, nem o oceano da sua
presença te dirão novos poemas

José Gil

Poema de amor 30

Mãe, é sempre a noite que temos mais medo como quem
apanha amoras e folhas de amoreira na Av. Grão Vasco.
não passa ninguém, não há ruído mas tudo é frio e solitário.
como te explicar o desemprego a crescer na nossa mátria,
mãe – há senhores que guardam relíquias de outro tempo,
é o primeiro de Maio, estamos livres mãe e temos medo.
as casas não se iluminam e a música é alta e clássica

Mãe, temos que ser eruditos, falar das calçadas do sol
ao rato e procurar outros sonhos para esta noite branca.
Lisboa só começa dentro de cinco horas em ponto,
o bicho da seda é um monstro  quando crescemos e o
casulo não é o que desejamos muito menos a borboleta
dos poemas, esse ritmo de imagens em ruptura, umas
com as outras no corpo interior sem espelhos.

José Gil

quarta-feira, 15 de junho de 2016

Domingo chove todo o dia

à Solange

Chove amor aqui no centro do largo, dezoito horas
de saudade de mel e pinhões sobre os mamilos inquietos.
como é gostosa a casa quando chove e as horas passam,
tristes e doces saudades de esperança que agosto seja já.
posso ler um romance e avançar da tardinha com o chá de
cidreira, tantos livros e autores novos por descobrir em toda
a terra, terra ajardinada do teu corpo de égua jovem, os meses
vão passar rápido, só oito meses, com Deus nos seus princípios e Lisboa é
a catedral do tempo, da palavra de mel no teu pescoço, procuro
o seio e a noite cai mais cedo, chove a verdade que arrepia a trovoada
 
há raios no ar amor, vem já.
 
José Gil

quinta-feira, 9 de junho de 2016

Prunus amygdalus

(ao meu amor, Solange, em Itabira de CCLA)
 
o mundo dos justos bem junto à pastelaria Careca
escrevo e bebo o café com o meu neto que brinca
com o palmier, trago ainda no bolso a amêndoa
(Prunus Amygdalus) de ontem, uma imagem do meu Algarve
da ideia de casa do mar que se adapta perfeitamente aos
nossos corpos líquidos
 
Deus sairá do que é bom no mundo dos justos em caminho
de um lado para o outro do mar, felizes entre o peixe
e uma amêndoa
 
abro a casa em armação de pêra doido por ti, entre os
beijos nesta altura de amar uma lição da tarde
 
beijo-te o café e a amêndoa em várias formas,
Prunus Amygdalus
 
José Gil

quarta-feira, 8 de junho de 2016

Alma combinatória

à minha esposa linda e jovem, Solange escritora


há na pedra portuguesa em que me dói pisar
um tanto de gozo e outro de sangue, como o ventre
um desassossego de paixão calado e tímido por ti

há na alma intercontinental em que me deito
um eterno quê de pedra e de fado como se de
reza fosse o meu destino por entre as pernas
resguardando cada um dos meus pecados

toca como as pedras macias todo o corpo quente
de mel 

há na pedra portuguesa em que vive o meu ventre
um luar de Brasil outro de música ou na fresta de uma
pátria repartida na língua bem longa do prazer 

há um mundo tão cobarde em que me perco do 
enamoramento constante em que uma rima ou métrica
é inventada, cada vez mais depressa, cada vez mais lenta
uma alma brava

há em meu corpo um sim sempre presente
que insisto em fazer de minha estrada

ou um não de romãs para mudar tranquilamente 
de estrada da alegria amada

José Gil
 
(revisto a 2 de Janeiro de 2016)

terça-feira, 7 de junho de 2016

Poema 118 de amor

Tangerina

 à minha namorada linda Solange


 
Um escritor cresce com o suor dos defeitos amados
E a sensação do tempo, sempre pouco tempo para
Seleccionar as folhas que o escritor escreve no mato grosso
Da relva da manhã a nascer do ventre erótico da madrugada

Cinco horas para o primeiro comboio de beijos no umbigo
Vou para Praias do Sado de comboio todos os dias
Se não fosse professor seria actor ou poeta tangerina não
Uma laranja mecânica como o filme do amor rápido
à primeira vista, num ritmo de gentileza trocam-se emails
Em Serpa literária terra do húmus que cresce quando cala
A boca o escritor, na tinta que falta e num berro d’água
Assim escrevo não dormindo no teu corpo de gazela, leio,
Lindo quadril de égua selvagem e feliz na floresta e no lago

São as três ocupações do professor e do poeta ler com
Alegria e escrever com consolação abaixo do ventre

Um poeta trabalha no sol energético
Paixão de ar e lua, fogo e água como
Eurípedes e Aristófanes as aves lutam
Contra as regressões o poeta ama a verdade
Pura e sagrada do teatro do vazio poético
O poeta nunca se revela nu, escrever é como
Construir a máscara com ou sem máscara
No rosto do actor que esconde e mostra como pera
Rocha e abóbora no forno todos os dias em jejum
Serei irmão de todos os meus irmãos como o
Azeite e o vinho num sangue puro sem raiz

O escritor canta até doer as mãos e sonha com o seu amor
E sonha com uma mudança no novo ano numa ladeira em
Azulão

O poeta subirá a montanha para ficar limpo em oração
Com a sua namorada esperará pelo Messias

Dezembro/Janeiro - 2008

José Gil