quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Curtos: Não sei de onde fujo



(quadro de fang lijun, "1997.11", 1997)


ao Gonçalo

Não penso. O meu pior perigo. O choro é o Rei. Sou o primeiro. Nunca somos os primos. Pele de aço sobre a pelugem. Onde pinto o que começa. Já não somos os primos primeiros a pintar a manhã - és tão bonita. Vestimo-nos de singeleza. O que chegou da estação no comboio do cansaço a Praias do Sado. Chove no luxo da pele, são pouco mais de cinco horas. Chego cedo onde o sol renasce. O que chega ao monte e corre o vale e vai e vice-versa como quem morre de sede com tanta gente à sua volta, a minha ilharga.

É cedo, o dia começa, no cinzento dos subúrbios nos comboios. A canadiana cobre-me a testa, o silêncio, a folha da dúvida vive da luxúria, veloz o beijo entre os braços. Vibro o que torna o tempo, não sei de onde fujo, a volúpia cesse.

O sorriso escasseia, chorei a dor ergue-me aos ombros. Prometo que não desisto.

Trago-te aqui o azeite com o alho para acordares. Corro tudo menos a rotina, a tinta pinta no céu. A estrela.



José Gil

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