quarta-feira, 18 de março de 2009

Incontinência



(fotografia de duane michals, "cavafy's journal" (2003-2005)


que sinal podemos estar todos perante uma incontinência
verbal – as aves constroem casas, as batas das crianças
são o sinal de alarme de ir a correr – a tardinha partiu
deixo o corpo rolar nas ondas é Março na poeira
dos caminhos – ouço aviões e comboios sem néon
uma estrutura suporte própria e direccionada

as crianças de encarnado - vivo aos quadradinhos -
correm negras na savana, canto-te a última casa
atravesso as pontes sobre as auto-estradas não
evasivas de neuro modulação ardem-me todas as
imagens nunca mais terei choques medulares
de uma tempestade a outra tempestade, perco
todos os caminhos - voei de mim a mim no fim de
linha – a tardinha está perto no corpo das areias frias
incisões na memória – mínimas – cintilas como a
minha frescura por urgência dos sensores

crio rupturas na memória – há uma ampliação
do regresso onde podia evitar e acalmar os músculos
um botoque de suspiros na alma, choramos todos
onde o lume procura o alarme dos novos vidros

pressinto-te leitor, cruzamo-nos, não ouço pássaros
muitas palavras têm um destino em comum, cristais,
onde vou inventar o fogo do tempo, dança nua na
estrada dos versos, tudo aberto amor até ao sol

José Gil

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