quarta-feira, 25 de março de 2009

Na Várzea de Meu Pai



(pintura de jock macinnes, "beached boats - algarve", s/d)


nascemos no coiro da burra, no lugar dos santos
entre faro e s. brás de alportel onde escrevemos
com alfarroba, o meu pai não sabia que eu ainda
escreveria este poema em ambiente de festa
comercial como este dia

somos irmãos nesta tarefa de levanta-te e anda
o pó do vazio, a janela entre os olhos e as mãos

guardo os vidrinhos da porta da Cinco de Outubro
à Estrada de Olhão enlaço-te em cada árvore da
grande avenida, bebo a água como as redes sociais

e o piano? Toca ainda em mãos livres para a
linguagem da necessidade, quero, sei, sou feliz
onde entendo o corpo novo e o ar que dele suspende

baloiça palavra para cairmos novamente de mão dada
como se o alcatrão sujo espelha o mar do Algarve
em cada várzea está o teu berço desde esse momento


José Gil

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