domingo, 4 de julho de 2010

suporte



(fotografia de robert mapplethorpe, "bread", 1979)


deixei o pão sagrado com queijo e ervas
à porta da sé enquanto rezavam o rosário

tu lhe chamas pão da tua terra, Madeira

morreu alguém, saltam os gritos e a oratória
estou agora no fogão a escutar a tua voz na minha
alma, fala mais alto, assobia a água quente do chá
de menta e hortelã para comer com um gelado de
baunilha e frutas cristalizadas e passas e cerejas

estamos no verão, só o sol queima, ninguém vive
connosco nestes momentos. Nem o sol nem a lua
apenas a casa e a bola de carnes, não há guerras
aqui próximo, isso nem falta a broa nem os teus
seios fartos, apenas o céu suporta a força do seu
azul, pesado mesmo rente ao longe no mar e na terra

és tão linda azul como o sol do mar, a noitinha
distante, o pão abre-se com a mão e cachaça

à porta da capela antes de atravessar as
estradas rápidas de esmeraldas para
o meu coração com asas/vento meu sangue de uma inocência de liberdade

José Gil

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