sábado, 12 de setembro de 2009

crash 53



(pintura de sebastian blanck, "isca (profile)", 2007)


driblam os teus olhos os meus no teu nariz
na tua face, os olhos em fogo, facies sedimentar
na classificação dialectal – o teu princípio sempre
a cortesia – e o fio arcaico da navalha branca
na vida real aparece no poema – adora-se, o
narciso esse grão de demência inabsorvível

trazer a literatura à terra e a terra à literatura suada
e vermelha – o rosto sempre sério e negro, sorri então
os teus olhos de um lado para o outro
da face como romãs todo o ano sobre a grande mesa
a sala ao fundo com a vela no corredor infinito
piso rápido os actores elocutórios voam de um poema
épico “lembra-me outro filme e outro livro les enfants
e la pluie d’eté
de Duras”(1) cumplicidades profícuas

eléctrico o professor do poema avança no filme
com lentidão e silêncio na intensidade de cada minuto
estruturas cársicas, varvitos, fomos criados com a água
do tejo, sempre fomos os ciganos do rio, bebemos a sua
água em cada dia e o pão da cantiga leitos claros e escuros

josé gil

(1)Expresso,(2009)Lisboa

1 comentário:

ⓡⓞⓣⓘⓥ disse...

Interessante...Gosto!
Abraços e boa semana ;)