terça-feira, 23 de agosto de 2016

Poema de amor

"A quem sabe esperar o tempo abre as portas."
(Provérbio Chinês)


dobro o tempo no eixo da mesa, atravesso-te no lugar do umbigo,
um poema curto em redor das faces do  relógio, soluço irredutível,
mãos  puras e  dormentes no teu regaço, enrolam-se  no veludo
do teu florido negro sombra e palma, enlaço de ervas e folhas, o
rosto do lábio como o ar na minha língua, espero devagar o passar
do tempo, uma linguagem de escultura com a pele à mostra, desejo
abraçar todo o animal junto à parede da casa, bem na rua onde chove

chovem as palavras e os teus saltos na calçada, é outono e o corpo vivo.
as pedras rolam ainda devagarinho do teu jardim como areias sensuais,
estamos na estrela, é uma tentativa de gestos  esvaziados de alcatrão

José Gil

Apologia para Domo

 
durmo na folha verde, a causa dos índios.
devo permanecer sereno e dono de mim
mesmo até nos sonhos  - de noite ainda
espero outro alguém na mesma relva,
gelo, gelo para os dedos da alma – um
partis pris da vida secreta para um poema
em guignol na ambição única da arte,
uma arenga poética, uma zanga com
cogitus interruptus a quem vive na
inviolável solidão
 
José Gil

segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Poema de amor Sevilha 2013

Voa pomba branca, neve no mar da rua escura brilhante
 
Quando caminho no alcatrão do desejo, onde estás?
Escreve-me em romãs de janeiro na maré vermelha, casa a
Casa um lugar do tempo novo

Ouve a carne viva cor de rosa catedral da tua voz,
No cantar brasileiro Bethânia, Chico Buarque, Caetano,
A luz da música popular para o coração se quebrar
Em choro de saudades teu jeito de amar, não estás
Noutro tempo, estás aqui agora, voa pomba sobre
O lençol branco da cama larga e vamos viajar.
Primeiro Espanha, Sevilha com amor no ónibus nocturno, namoro
Por uma noite os laranjais de D. Juan, leve luar quando
Chegarmos e depois Praça de Espanha em Barcelona,
Velho país como o nosso  onde a juventude voa como as pombas
Brancas no pomar

Quem quer dançar entre as árvores, dança o samba nas
Portas do Sol na capital ou na nossa no Miradouro da
Senhora do monte
Um território acorda o outro de pele,
Sempre a saudade da carne, chorinho.

José Gil