quinta-feira, 7 de outubro de 2010

poesis



(fotografia de peter beard, "francis bacon", s/d)


(Poesis doctrinae tamquan sominium)

Francis Bacon

tenho o poder de despertar a vida
alma de criança da natureza, na
persuasão, adivinhação e profecia
quem conhece o teu corpo de flor
kalevala no jogo combinatório
sobre a “pedra de canto” sou o
imprudente competidor no
desafio de fanfarronada ou
a jactância da lua na noite
“antiquíssima e idêntica”
no meu ordálio de insónia
serei vates, o possuído
deitado na relva da lembrança
sha´ir(1) bebendo o hidromel para
ser o poeta vivo kvsair o mais sábio
mistagogo, kulredener(2), thrul (3)

tento o lugar do património
o jogo da poesia – palavra
tempestade de nomes vértice
profano de quem vive solto e branco
como só as veias em tronco onde se
vê a ave que ocupa a terra inteira
as harmonias de um punho fechado

lento como o sangue, uma teia de hortelã
no fundo do umbigo rosa e negro, o alho
do esquecimento latino tenho um poder

José Gil


(1)sabedor segundo os árabes antigos

(2) orador culto

(3)actor de drama sagrado

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