quinta-feira, 7 de outubro de 2010

suavizar com tacto



(fotografia de manuel alvarez bravo, "fruta prohibida", 1976)


no Porto, outrora era apenas o vinho incandescente
as uvas não falam, ninguém pode ensinar o sabor
delas, nem do hausto Deus, quando debruças o teu
peito sobre a canastra clara sou eu que espero, o
açúcar em ponto de sentimento, o desejo, o corpo
que defendo, dentro da palavra. Que amor ouvirá este
Outono, no tremer das pernas. eu amo tudo o que é vida
o aroma dos lábios na pele abafada à garra
do silêncio que a compromete. Melífluo beijo…
Baloiça o desejo na ilusão dos corpos deslumbrados à sua chama,
elevados à mente que os abraça.
O rio que passa e corre e traça a fé de um abraço,
A fé de um amasso…
quente, forte, seguro,
Suspiro aceso ao prólogo de nova viagem
a minha nudez no incêndio do
tacto, nas rampas da voragem as
ancas encontram-se tocam-se, trocam
pelas línguas, abrem o mel e o leite
os barcos e as mãos sobem as costas
até ao peito, passa-se a noite a acordar e
a dormir, as mãos procuram o primeiro
gemido, como um piano, como Chopin
o trabalho do corpo porque o amor chega
o meu amor está a chegar e tudo
realmente acontece, depois as canções dos
ritmos dos corpos no chão plano e na parede
devolve-nos à terra dos lençóis, ao brilho
de um café, a onda cheia com um pingo
na avenida da foz


José Gil

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