sexta-feira, 7 de outubro de 2011

água do madeiro



(fotografia de debra bloomfield, "untitled (from oceanscape series)", 2000-2001)


no litoral limite da erva do mar
onde a mão só chega ao tronco do ar
e treme porque já vagueei o sol

os longos cabelos loiros espelham
no oceano revelam o brilho das aves
que voam um dia procurando o belo
fica esta musa falando do amor frio
da água. só eu em fogo posso perceber
este inicio do dia

este início do poema dionisíaco
onde o sexo é o sabor da vontade
rompe do pássaro e das rochas

são as rochas que ascendem do mar
não o véu de espuma que
amanhece nos dedos
no declínio do céu no mar dourado
abre-me com a festa divina da pedra amarela
e só dói no doer já junto à areia
quando o mar bate junto à pedra
e bate no mastro dos aviões
o que pela espuma se dobra e ascende
mastro livre libertário das marés

trago ainda a loba negra ao lugar do mastro
o sol lentamente dobra as curvas
do alto do céu e da brisa
dói o que a dor não perde

a dor só perde quando o resto se encontra
o corpo, a vivência, o temor
- há uma sementeira de algo
no chamamento fácil da gaivota
e nada mais

tudo responde por detrás
do nervo dos olhos

a tardinha a casa abre a sua folha
e a égua de dossel claro
faz a sombra na areia
ninguém a levanta à altura
da janela que se abre ao canto
e o lugar fica para a árvore

Constantino Alves, Jorge Vicente e José Gil

(Água do Madeiro - Leiria)

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