domingo, 2 de outubro de 2011

corpototal 46



(fotografia de ansel adams, "cracked white paint and board (wood and whitewash)", 1970's)


“A forma que carece de ritmo é indefinida e deve ser definida ainda que não seja em verso, já que o indefinido é desagradável e difícil de entender”

Aristóteles



as leis dormem no mais exacto instante dos morangos
à flor da pele nos seus deleites de memória já que o
individuo foi substituído pelo homem comunitário em
todo o deserto entre girassóis de literatura das areias
integralmente animal no eixo da sorte nus mas não
invisíveis, pensa-se depois não será sempre assim no
murro em redor da casa no sofrimento eterno indescritível

"e nada mais ouviram nesse dia”(1) nem um digno
meio entre as catástrofes, nem um tecido de sombras
partilhado com os ecos, nem a chave apocromática, a
analogia e a metáfora nem a genética dos sabores, elos
da sociedade antiga tão global tal como as moléculas
mortas tautologicamente substituídas na totalidade e
no infinito da evasão (2) – amei-te natureza nos fins
com os seus concomitantes na sua capacidade fruidora
da natureza multicoral com os “apocalípticos e integrados”(3)
na compaixão (4) pela terra onde derramas sempre o teu
sangue numa tarefa ciclópica com um imenso matadouro onde
a poesia é apenas do domínio das incertezas – uma casa sem
portas com o corpo nu no umbral azul e o mar em espuma
na última parede aberta, instruiu-se a casa, o vestido, a
máscara nua e negra onde tudo fica azul eterno
no enciúme dos pastores de palavras nos abismos
da oratória épico - bíblica de raiz comum – somos
pássaros, anjos ou plantas para ordenar a calidez
das paredes e das portas abertas, nus nos umbrais com
descuidos da poesia da terra sem pensar na totalidade da
informação afectiva desde o cristal até ao fumo acirrando

com os teus mamilos negros de língua sob a romãzeira
num pensamento imaginante distinto dos polemos seciantes

“o zero é o infinito”(5) na dialéctica negativa das cruentas
memórias na banalidade das indústrias do mal

“e nada mais escreveste nesse dia” ante o falar sempre
para além das brumas do tempo, dum provir indeciso
puxado pela paixão no lume que esmorece na lareira dos signos
complexos e intímos ante a atitude da escrita sempre sobre a pedra

José Gil

(1) George Steiner

(2) Emmanuel Lévinas

(3) Umberto Eco

(4) Leonardo Boff

(5)Henri Atlan

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