quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Crash 27: Lisboa Mãe




ao Constantino



a geada passa a manhã é fria, avanço no comboio para fora de mim, da pele
levada – para fora da cidade diante de uma planície de sal – praias do sado -

leio em teus olhos, quando ainda alguém te disse - estavas sentada
repousando os lábios, escrevo entre dentes, pequenos grãos das flores

os teus navios entram no teu corpo santo, a guitarra toca, cá estou na outra mesa
de pedra onde cresceu o vento pensando na próxima folha de mentira logo
que ela vem vai num instante. o Deus contempla a flor com recordações do
passado, a flor não cai, a pétala sorri, a mesa está permanentemente incompleta
já chegou a minha mão direita à tua face, o olhar deste primeiro mundo decadente

ultrapassado os lados e os cabelos, beijo-te a nuca, abraça-me na minha solidão
inquieta – eu, ainda dentro da manhã sem saber se me demoro por momentos
arrepia a “carne rosa viva” por momentos a minha planta dentro de ti, na mesma espiral
negra e romântica na melodia, onde um dia vou adormecer e acordar no aroma das flores nas areias calcinadas da boémia.

os aromas misturados num só perfume, os Açores na Praça de Espanha na preguiça das vacas – oiço a voz de minha mãe que constrói o seu dia. Subo à mesa,o tampo range passo a passo sobre os fritos de Natal – tento reabrir a luz – ficará a porta sempre
aberta neste escuro – lisboa já é outra que não sei no rossio crash “tropeço de ternura”, a brancura dos corpos minimalistas, perfumes negros onde já não há limites muito severos, ”Lisboa a labareda vã das gargalhadas”, gostava de rir toda a tarde em canções de redenção, sem palavras, máximo conforto – tenho saudades de uma acácia no olhar, uma bússola que me ofereceste em África – “ a poesia é um eco que convida uma sombra para dançar. “ (1) Amjad – palavra árabe para a maravilha da capital

transporto na face o esplendor da linguagem com as árvores de fruta do inferno.
desenho-te numa casa cinzenta, posso sentar-me debaixo das árvores dentro de um cubo mais claro – verde germinação celestial – o homem já se ri consigo para tornar falo o poeta de Lisboa em portas entreabertas e circunscritas.

quando a cidade me chama entre a arte, população e território. Vem capital do Tejo, eu te escolhi na senda da alegria, colcha de retalhos coloridos de uma guitarra mar osa e pombas brancas pousam nas pétalas dos meus dedos oceano fértil e curto

José Gil

(1)carl sandburg

1 comentário:

Teresa David disse...

Cheguei aqui via Jorge Vicente que me aconselhou e bem, este blog onde encontrei um texto poético magnifico bem acompanhado de uma imagem bastante expressiva.
Bjs
TD