sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Crash 3: Ruína



(quadro de mychael barratt, "the dancers", s/d)

(ao Constantino e ao Jorge na ilha paradisíaca)

Escrevo-te a filigrana o seio escuro na camisa vermelha, aberta, como a lua a descer lenta na Parreira de Leiria, no mamilo largo dói a distância da mão não segurando a outra mão nem o lápis dos teus olhos. Como escrever-te. Ganham as palavras voz, na verdade essa é a loucura de um Deus livre e águia.

Escrevo-te o que falo no microfone, rápido, no amor quotidiano, só há pressa. Oiço a tua voz no ouvido que é nesse momento todo o corpo em arrepio. Mar, mar imenso, mar
infinito e se digo só filigrana, a luz faz-se luz nos dedos longos e fortes, revoltados com o telefone nos punhos e no pescoço auricular sensível no seu imenso peso, a voz então salta e pula na avenida de S. Pedro de Moel. Fica palavra selada no silêncio do coração e do seio esquerdo na penumbra do teu nome na parede.

Escrevo-te, coração independente nas coxas como o incêndio de uma loba.

Eu não sou exemplo para ninguém, já deixei de pensar, de dizer, de discutir.

Fechei a boca apenas para um beijo que murmura entre a língua e os teus seios e os dedos. Dói muito o oceano, quase choro, “esta estranha forma” de amar sinto a pulsação.

Nos pés onde toco e acaricio as três arvores do chá. A privação enfurece, sem “ telhado entre ruínas”, crash.

José Gil

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