quarta-feira, 22 de junho de 2016

Poema de amor 37 - Graffitis no comboio do teu ventre

(à Solange, minha Princesa em 2016)


A minha poesia é feita de um excesso demiúrgico, Cassiopeia sensual
vegetal dentro do meu ouvido, concha na solidão dos Campos de Algodão
entre a Buraca e Damaia, comboio das 5h38h, contrariar a efemeridade de quem vive
aqui há 40 anos como lugar de conforto para te receber os seios.

Morder o pescoço, águas livres do nosso enamoramento, as papelarias,
os cafés Apeadeiro, Vanda, a cervejaria Rio Bravo, Postigo, o vandalismo
da estação da Damaia de Baixo com a sua chuva constante e singular,
a passadeira para a Cova da Moura, a poesia no nervo dos clandestinos
que saltam as portadas da segurança para os comboios, os roubos constantes
nas escadinhas no lado de S.Cruz de Benfica, aqui a poesia é como os
graffitis, iniciática, nela procuro o simples, o elementar, o mínimo, na
periferia do poema e de Lisboa, combate de cães ferozes e feios.

Um dos grandes corações séniores do Alentejo, joga-se às cartas nos
bonitos jardins da Câmara e da freguesia das Águas Livres, o teu amor,
desenho no comboio do teu ventre com a boca suada do trabalho 

José Gil

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