Tangerina
à minha namorada linda Solange
Um escritor cresce com o suor dos
defeitos amados
E a sensação do tempo, sempre pouco
tempo para
Seleccionar as folhas que o escritor
escreve no mato grosso
Da relva da manhã a nascer do ventre
erótico da madrugada
Cinco horas para o primeiro comboio de
beijos no umbigo
Vou para Praias do Sado de comboio
todos os dias
Se não fosse professor seria actor ou
poeta tangerina não
Uma laranja mecânica como o filme do
amor rápido
à primeira vista, num ritmo de gentileza
trocam-se emails
Em Serpa literária terra do húmus que
cresce quando cala
A boca o escritor, na tinta que falta e
num berro d’água
Assim escrevo não dormindo no teu corpo
de gazela, leio,
Lindo quadril de égua selvagem e feliz
na floresta e no lago
São as três ocupações do professor e do
poeta ler com
Alegria e escrever com consolação abaixo
do ventre
Um poeta trabalha no sol energético
Paixão de ar e lua, fogo e água como
Eurípedes e Aristófanes as aves lutam
Contra as regressões o poeta ama a
verdade
Pura e sagrada do teatro do vazio
poético
O poeta nunca se revela nu, escrever é
como
Construir a máscara com ou sem máscara
No rosto do actor que esconde e mostra
como pera
Rocha e abóbora no forno todos os dias
em jejum
Serei irmão de todos os meus irmãos como
o
Azeite e o vinho num sangue puro sem
raiz
O escritor canta até doer as mãos e
sonha com o seu amor
E sonha com uma mudança no novo ano numa
ladeira em
Azulão
O poeta subirá a montanha para ficar
limpo em oração
Com a sua namorada esperará pelo Messias
José Gil
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