sábado, 17 de janeiro de 2009

Crash 22



(quadro de walter dahn, "untitled", 2006)


anoitece porque o sol se perde no nevoeiro
tempo litúrgico de quem avança na palavra
alma leve no espelho ao vento tenho a pedra
fina do teu cabelo, a festa rápida do teu sinal
rede do texto em que afirmo o som das palavras
depois ficarei mudo umas horas, quantas linhas
procurar os símbolos do tempo, ainda é a face da
tarde que procura a mão, levado, tupa que tupa
no Convento da Ara Coeli, todos ficam ao sol

passemos à outra margem

José Gil

2 comentários:

Maria João disse...

"anoitece porque o sol se perde no nevoeiro (...)"
Mais um crash em que amanheci, porque a Poesia, às vezes, dissolve nevoeiros... E até o mar se "manifesta", quando eles se dissolvem ("exala um cheiro mais vivo").
Parabéns, Jorge, pelas excelentes imagens que vais garimpando... Esta é também muito bela e elucidativa. As mãos revelam o homem, não achas?
Um abraço para ambos
Maria João Oliveira

João Esteves disse...

Optei por Crash 22 para deixar comentário aqui, Jorge (como a Maria João o chama, bem vejo) por ser dentre os que no correr de vista desde o alto da página foi o que mais coisas me disse, das quais não preciso dizer detalhadamente, só que gostei.
Vim conhecer-lhe o blog vindo de outro onde você deixara um poema sobre a palavra contrapontuando com o dele, de mesmo tema. Gostara já do dele e também gostei do seu. E eis-me.
Coincidentemente, no Brasil se atribui loucura ao número 22 (diz-se "ele é 22" como se diz "ele é gira" ou pancada, ou pinel, ou maluco, ou tantos sinônimos outros que ainda não recenseeei).
Saciada minha curiosidade, retorno a de onde vim.
Um abraço.