sexta-feira, 8 de julho de 2016

Poema de amor

(6 de Janeiro 2016, 12h, hospital) 


“a palavra poética é um acto em ruptura”
Casimiro de Brito

Trago contigo uma moça que raramente viu o mar em Minas
Milhares de rostos de pó, alienação do minério impera em
Itabira – eis o teu homem respirando a tua saia em dois mil
E seis unidos no amor do bafo por umas mil e umas coisas comuns
E distintas em Lisboa à beira do rio Tejo, recordando o drama de
Mariana à beira lama, desocupada na tua rebeldia luminosa do
Desejo numa união do oceano atlântico

Fingir é conhecer, estou aí amor no gemido ouvido num silêncio
Habitado ao teu corpo sobre o meu, onde se cria a criação.
A minha poesia é polifacetada como os teus seios rosa claro e escuro,
Fome de pele
Dos  dedos de caramelo em brasa,
Leite creme cristalizado entre as
Duas línguas sobre os mamilos
As mãos no orvalho do fumo da relva
Do teu jardim nesta memória deste café
Onde se conserva e conversa
A linha do sol, o verão no Brasil,
A cachoeira dos dias de namoro como
Aqui hoje a chuva e a neve da estrela
De Portugal ou outra neve presente
Em toda a serra de Montemuro-Viseu-
Onde o teu corpo em Reriz dança nú
A musica poética brasileira ao longo
Dos anos. Raro, raro nua bebes para
Aquecer o chá branco Pai Mu Tan.
Das tuas ancas nas minhas
Corre a cortina do mais cerrado nevoeiro,
Voltamos para a roupa e o carro para
Envolver chá formosa Oolong

Aquece amor um bouquet de rosas dentro
Do carro para um romântico acordo a dois,
Deita-me  nas folhas de eucalipto do banco de trás,
Pinhas para acariciar as tuas costas de cima a baixo

Depois chá verde com aroma de cereja japonesa
Como no Império dos Sentidos
A abertura ao mundo antecede a poesia
Nos teus lábios, jogo criador entre os joelhos
Mexo a mão nos joelhos e na totalidade do
Corpo entre jogos e fantasias por um carro
Em pleno nevoeiro e principio de noite  na neve,
Sinto todo o teu fôlego por uma respiração com
Gemido na nova visão do ventre - evasão.
Eu estou alegre, outro copo de vinho fresco,
Mesmo longe, mesmo distante do Hotel de
Belo Horizonte, 33º, os nossos caminhos
Chegam em palavras verbais e orais mesmo
A dolorosa palavra da esperança cada sábado à tarde.
Solta as raízes do próprio corpo, o imprevisível
Seio direito. Aqui no quarto chove e o poema se
Recompõe-se  no  mar por outro corpo quente de chá
Branco, o chá das princesas como tu, o triângulo,
A evidência das ancas, o processos poético dos glúteos
Como o aberto armário na ambiguidade de interrogar o real,
Ruptura com o desenho feliz dos teus seios no tampo da mesa
Do escritório a claridade do amor que te escrevo na paz rápida e forte,
A sabedoria do enamoramento e do erotismo, Que dizer da estranheza
De tanto desejo na solidão rugosa

Estamos sós e vivemos pela poesia adentro. Fora e dentro
Uma extrema concentração no global sensível, toca-te
Ambiente natural vegetariano em que o chocolate aquece
Leite de moça no próprio coração da coisa, o orvalho, o cabelo
Deslizante de um calhau para a lua cheia de esplendor.


José Gil

Sem comentários: